Disco: “Platform”, Holly Herndon

/ Por: Cleber Facchi 26/05/2015

Holly Herndon
Experimental/Avant-Garde/Electronic
http://www.hollyherndon.com/

Vozes recortadas de forma abstrata e encaixadas sem ordem aparente; sintetizadores ambientais, ruídos eletrônicos e batidas movidos pelo etéreo; gritos, sussurros e provocações. Quem acompanha o trabalho de Holly Herndon sabe que o “óbvio” passa longe dos arranjos assinados pela artista. Misto de personagem e matéria-prima da própria obra, ao alcançar o recente Platform (2015, 4AD), segundo trabalho em carreira solo, a compositora norte-americana dá um passo além em relação aos últimos lançamentos de estúdio, colidindo melodias, conceitos e até imagens dentro de um cenário que parece modificado a todo o instante.

Primeiro registro de Herndon lançado por um selo de médio porte – 4AD Records, casa de Grimes, St. Vincent e Ariel Pink -, Platform pode até seguir a trilha do álbum antecessor Movement, de 2012, entretanto, aos poucos revela evidências sobre os novos interesses da artista. Ainda que a voz seja o principal ingrediente da obra, refletindo a mesma temática orgânica do disco passado, cada ato, canto ou melodia torta de Herndon encontra no uso de temas eletrônicos um sustento renovado. Ruídos, manipulações e até batidas eletrônicas que apontam a lenta “digitalização” da artista – preferência que se estende da faixa de abertura ao visual futurístico que aparece na capa do álbum.

Sem começo, meio ou final, Platform parece brincar com a linearidade de um registro comum. De fato, grande parte das faixas crescem substancialmente quando observadas além dos limites das melodias, invadindo o campo das imagens. Música (ou clipes) como Chorus, Home e Interference; pequenos ambientes criativos onde Herndon se transforma em instrumento para o trabalho de diferentes diretores. Diálogos com diferentes mídias, porém, incapazes de prejudicar a autonomia musical do trabalho – uma interpretação particular da artista em relação a elementos da música pop ou mesmo da cultura de internet.

Mais do que um experimento particular, Herndon autoriza a interferência de diversos colaboradores. Conterrâneos da música californiana – caso de Spencer Longo em Locker Leak -, representantes da cena nova-iorquina – como Colin Self em Unequal -, ou mesmo nomes que ultrapassam os limites da música, posto reforçado pela presença de Akihiko Taniguchi, responsável pela criação do software utilizado pela musicista em boa parte trabalho. Até a identidade visual que ocupa o encarte do álbum – projeto assinado pela agência Metahaven – pode ser encarada como um instrumento complementar para o registro.

Assim como em Chorus EP (2014), Herndon continua a estimular o ouvinte “despreparado”, criando pequenas brechas e caminhos acessíveis no decorrer da obra. Basta se concentrar nos vocais operísiticos (e entristecidos) de An Exit – faixa em parceria com Amnesia Scanner – para perceber o lado mais “comercial” da compositora. Sem necessariamente fugir do próprio universo conceitual, não são poucos os momentos em que Herndon atravessa a obra de artistas como Björk (DAO), Grimes (Home) e Fever Ray (New Ways To Love), desenvolvendo um registro que perturba na mesma medida em que parece acolher o espectador.

Mesmo cercada por diferentes teorias musicais, bases acadêmicas e referências que atravessam a obra de Oneohtrix Point Never, Karin Dreijer Andersson ou mesmo representantes do selo PC Music, Herndon em nenhum momento perde o controle sobre o próprio trabalho. Partindo de uma autoral reciclagem de conceitos, cada curva de Platform aponta para um cenário de transformações curiosas, inéditas e sempre provocativas. Impossível saber onde começam as inspirações da artista e nascem as estruturas reluzentes que sustentam a obra com novidade.

Platform (2015, 4AD)

Nota: 8.8
Para quem gosta de: Oneohtrix Point Never, Fever Ray e Future Brown
Ouça: Home, Chorus e An Exit

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.