Disco: “Pleasure”, Pure X

/ Por: Cleber Facchi 25/06/2011

Pure X
Dream Pop/Lo-Fi/Slowcore
http://soundcloud.com/pure-x

 

Por: Cleber Facchi

Musicalmente um bom ano se constitui pelo reforço dado por artistas veteranos com o lançamento de seus novos trabalhos e também pela estreia de bandas e projetos repletos de frescor, dando vazão aos sons que estes um dia principiantes e atuais veteranos trouxeram para dentro do meio musical. Como representantes deste segundo grupo, o trio norte-americano Pure X, vindo de Austin, Texas concentra em seu primeiro álbum uma boa soma de gêneros e peculiaridades do rock alternativo, fazendo de um apurado de sons e texturas instrumentais a porta de entrada para um mundo de delírios poéticos, sonoros e uma boa dose de lisergia.

Há poucos meses quando as primeiras apresentações e músicas da banda começaram a figurar pela blogosfera, nem o baterista Austin Youngblood ainda fazia parte do projeto, deixando para os parceiros Nate Grace (vocalista e guitarrista) e Jesse Jenkins (baixista) a tarefa de administrar sozinhos todo o universo de sons obscuros derramados através do Pure X. Mesmo com a chegada de Youngblood pouco mudou dentro das composições estranhas que o grupo proporciona, sempre carregadas de distorção, vocais praticamente inaudíveis e uma condução drogada que preenche de névoa cada uma das músicas da banda.

Embora se apresente como um trabalho de dez faixas, Pleasure (2011), álbum de estreia dos texanos parece dar sequência a uma composição única, uma faixa densa com quase 40 minutos e que sabe como concentrar tudo o que há de mais estranho, viajado e de certo modo assustador vindo das últimas quatro décadas do cenário musical. Esqueçam as experimentações sujas e “revolucionárias” que atualmente vem saturando rótulos como “Lo-Fi”, “Dream Pop”, “Shoegaze” ou qualquer designação dada à sons carregados de fuzz, ruídos estridentes e ambientações sombrias, afinal, tudo dentro desse apanhado de dez canções parece se dissolver com experiência e difrença.

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Não são poucas as estreias elencadas como as mais impactantes e importantes do ano e que no fim pouco ou quase nada trazem de inovador, mas deixar de lado e não dar destaque ao trabalho do Pure X seria uma das tarefas mais injustas a se concretizarem atualmente. A forma excêntrica com que a banda destila seus sons e melodias (se é que podemos chamar aquilo de “melodia”) parece distante de tudo que se configura no cenário independente atual. Há ecos de Drone, uma temática voltada ao Slowcore, muito da década de 80 (The Jesus and Mary Chain principalmente), além de todo o aflorar do rock shoegaze na década de 1990, fazendo de My Bloody Valentine e Galaxie 500 brinquedos em meio aos sons rebuscados que são expostos pela guitarra de Grace.

Tudo em Pleasure parece vir como a resolução de um caminho sombrio, uma espécie segunda opção, como o que teria acontecido ao Ariel Pink se este não escolhesse as vias da música pop em Before Today (2010), ou no que se transformaria Hospice (2009) do The Antlers se Peter Silberman resolvesse passear por um terreno de trevas, sujo e repleto de pessimismo ao invés de seu quarto almofadado branco montado dentro do seu sanatório mental. O álbum parece revelar o que há de mais sujo dentro do ser humano, como se mesmo sem compreender uma palavra do que é exposto nas temáticas cauginosas das canções, o ouvinte soubesse que elas falam sobre ele, como indivíduos que cochicham quando você passa ou olhos mal intencionados que o fitam por entre frestas.

Embora uma primeira audição o disco possa se transformar em um processo de experimentação doloroso (mesmo aos já acostumados com reverberações similares), à medida que Pleasure e faixas como Dry Ice, Dream Over ou Twisted Mirror vão se revelando é impossível se esquivar das algemas que o trabalho lança para aprisionar o ouvinte. Por mais poluídas e carregadas por uma aura negativista que sejam as faixas, depois de uma terceira ou quarta audição é como se toda a agressividade e sujeira se transformassem em beleza, talvez com o disco (ou nossas percepções sobre nós mesmos) parecendo algo agradável e não mais indesejável.

Plesure (2011)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: Dirty Beaches, Deerhunter e Juliana Barwick
Ouça: Dry Ice

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.