Disco: “Pluvero”, Kalouv

/ Por: Cleber Facchi 28/03/2014

Kalouv
Post-Rock/Instrumental/Ambient
http://www.kalouv.com/

Se a maturidade um dia chega para qualquer artista, em se tratando do grupo pernambucano Kalouv ela não custou a florescer. Três anos depois de delimitar as próprias referências em Sky Swimmer (2011), registro de estreia do quinteto de Recife, Pluvero (2014, Sinewave) arremessa a banda para um cenário ainda mais amplo de possibilidades e doces essências instrumentais. Conduzido pela leveza e aglutinando pequenas gotas de chuva instrumentais, o novo álbum é a passagem direta para um cenário definido em totalidade pela banda, mas (ainda) deliciosamente inédito para os seguidores do grupo.

Dissolvido em pequenas frações isoladas, o registro encontra no hermetismo próprio de cada composição um universo abrangente para seus criadores. São tramas jazzísticas, pigmentos típicos do pós-rock e todo um catálogo de emanações atmosféricas que parecem feitas para confortar o espectador. Como um respiro profundo antes da agitação, Pluvero coleciona ruídos, absorve diferentes texturas e trata de distintas décadas musicais sem fugir da minucia que já parecia instalada no álbum de estreia do grupo. Aqui são os sons que orquestram o ouvinte, ditando uma medida de tempo que se desenrola com total particularidade.

Construído ao longo de dois anos – o processo de gravação teve início em 2012 -, o trabalho encontra na leveza das formas um senso de particularidade. Ainda que o efeito climático dos sons, evidente na extensa Boa Sorte, Santiago ou na curtinha Esquizo, esbarrem nas tendências típicas do rock instrumental, o cálculo exato de cada instrumento força a mente do ouvinte a viajar. São pequenos grãos de areia minimamente encaixados no castelo ascendente que o grupo projeta. Pianos que silenciam perante as guitarras, batidas que esperam o trompete passar e todo um conjunto de elementos que mais parecem se esfarelar no decorrer do disco.

Por mais que esse cuidado se manifestasse de forma constante em Sky Swimmer, o caráter urgente de algumas canções (vide Zéfiro) parecia quebrar o equilíbrio do disco. Em Pluvero, mesmo que cada composição seja observada isoladamente, a serenidade que preenche os arranjos materializa uma ponte única do começo ao fim da obra. Uma sensação de que a ruidosa Areno, no inicio do álbum, ou a derradeira Es muß Sein, com suas imposições noir, fazem parte de um mesmo terreno criativo. Tudo se comunica, o que torna a imersão uma experiência natural na estrutura do disco.

Espécie de sexto membro do grupo, Roberto Kramer, da banda Team.Radio, limpa e observa cada instrumento do álbum com atenção. Bastam as camadas de Durango ou os acordes brandos de Esquizo para perceber como os detalhes que abastecem o disco refletem o mesmo tratamento dado ao EP Summertime, de 2011. A presença do produtor funciona como um filtro em determinados momentos, evitando que o ziguezaguear demasiado do disco anterior possa interferir no alinhamento do álbum. Detalhes que dialogam durante todo o tempo.

Como se buscasse contar uma história ao longo do disco – ou seria um livro de dez capítulos? -, Pluvero transforma a serenidade inicial em um estímulo crescente para o eixo final da obra. Ainda que o caráter ascendente se faça visível logo em Namazu, é a partir da segunda metade do disco que o ouvinte parece arrastado pelas correntezas instrumentais do quinteto. São pianos psicodélicos (como os de Limiar), uma doce interpretação da ambiente music (em Altro) e a densa solução dos arranjos (que orquestra os dois atos de Algul Siento). Uma sensação constante de que as regras são inicialmente expostas e aos poucos traduzidas em novas possibilidades. Um constante exercício de somar, sem nunca perder o controle.

 

Kalouv

Pluvero (2014, Sinewave)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Constantina, Labirinto e Explosions in the Sky
Ouça: Namazu, Algul Siento II e Boa Sorte, Santiago

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.