Disco: “Poison Season”, Destroyer

/ Por: Cleber Facchi 31/08/2015

Destroyer
Canadian/Indie Rock/Alternative
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Poison Season é um verdadeiro espetáculo. Atos marcados, instantes de euforia, recolhimento e explosão. Quatro anos após o lançamento do jazzístico Kaputt (2011), obra que apresentou o trabalho de Dan Bejar a uma nova parcela de ouvintes, o artista canadense encontra no décimo registro de inéditas do Destroyer um espaço para explorar conceitos adormecidos desde a estreia com We’ll Build Them a Golden Bridge, em 1996. Um acervo de faixas marcadas por referências literárias, personagens históricas e sentimentos que abraçam a mesma sonoridade arrojada e interpretação cênica dos últimos trabalhos do grupo.

Questionado sobre a estrutura e conceito que rege o novo álbum, Bejar respondeu ao The New York Times: “Eu passei a ouvir mais discos de jazz“. De fato, o Jazz ecoa em todas as canções do novo disco. Do time de instrumentistas que acompanham o cantor – Ted Bois (piano), Nicolas Bragg (guitarra), David Carswell, (guitarra), JP Carter (trompete), John Collins (baixo), Joseph Shabason (saxofone) e Josh Wells (bateria) -, o uso de arranjos sofisticados e faixas que se completam, Bejar passeia pelo disco como um verdadeiro crooner, resgatando a essência de nomes como Frank Sinatra – personagem reverenciado pelo artista em diversas entrevistas recentes.

Como explícito durante toda a construção do disco, Sinatra está longe de parecer a única referência de Poison Season. Dos musicais da Broadway – como Oliver – aos trabalhos da brasileira Clarice Lispector, de clássicos do Cinema Noir ao diálogo com a música dos anos 1970, Bejar e os parceiros de banda conseguiram criar um verdadeiro mosaico de temas e essências musicais sem necessariamente perder a própria identidade musical. Uma obra que mantém a mesma graciosidade explorada pela banda em Kaputt e, ao mesmo tempo, resgata uma série de elementos lançados no enérgico Destroyer’s Rubies, de 2006.

O que mais surpreende nisso tudo? A capacidade de Bejar em costurar todos esses elementos e ainda se manter íntimo da música pop. Dream Lover, Girl In a Sling, Midnight Meet The Rain e Times Square, poucas vezes antes o Destroyer presenteou o público com um catálogo de faixas tão acessíveis quanto em Poison Season. Mesmo nos instantes mais complexos e naturalmente intimistas da obra, caso da climática Archer On The Beach ou Bangkok, faixa que parece extraída de algum filme de investigação policial dos anos 1960, Bejar encaixa uma série de versos e arranjos capazes de fisgar o ouvinte.

Mesmo que parte expressiva desse resultado venha do confesso fascínio de Bejar pela obra de gigantes como Bruce Springsteen e David Bowie, nítida é a influência dos diferentes projetos paralelos do músico no decorrer da obra. Das texturas de guitarras lançadas pelo Swan Lake ao uso de melodias de voz típicas das canções do The New Pornographers, não são poucos os momentos do disco em que o artista parece “recriar” a própria obra. Difícil não pensar em faixas aos moldes de Times Square e Dream Lover como possíveis “sobras” do radiante Brill Bruisers (2014).

Assim como em Kaputt, Dan Bejar finaliza uma obra que parece crescer a cada nova audição, como um álbum que revela seus “segredos” em pequenas doses. Ao fundo de cada faixa, um time de instrumentistas capazes de detalhar minuciosamente os arranjos que abraçam e protegem a lírica abstrata de Bejar. Sussurros românticos, delírios alcoólicos, abusos, excessos e diferentes colagens que fazem de Poison Season uma obra que se estende para além dos próprios limites.  

Poison Season (2015, Merge / Dead Oceans)

Nota: 9.5
Para quem gosta de: The New Pornographers, Swan Lake e Jens Lekman
Ouça: Times Square, Midnight Meet The Rain e Dream Lover

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.