Disco: “POP ETC”, POP ETC

/ Por: Cleber Facchi 27/06/2012

POP ETC
Indie/Alternative/Indie Pop
http://www.themorningbenders.com/

Por: Cleber Facchi

Poucas coisas me parecem tão encantadoras, bem arranjadas e comoventes quanto o vídeo montado para a dolorosa Excuses, provavelmente o último e maior acerto da “extinta” banda californiana The Morning Benders. Gravado em parceria com uma série de amigos do grupo comandado por Christopher Chu, a canção sintetiza todos os acertos que o trio conseguiu alcançar com o lançamento do segundo álbum de estúdio, Big Echo, registro apresentado oficialmente em março de 2010 e que ainda hoje soa como um dos melhores e mais completos exemplares de toda a rica produção do período.

No vídeo, que dura pouco menos de sete minutos, o vocalista Chu abre falando sobre o quanto gostaria de produzir um registro visual em que uma série de colaboradores se agrupa em estúdio, cada qual assumindo uma função dentro de um enorme arsenal de baterias, guitarras e vozes, uma estratégia, que como o próprio avisa, já fora utilizada pelo produtor nova-iorquino Phil Spector em alguns de seus trabalhos. De maneira sutil, todos os elementos e personagens do vídeo parecem desempenhar uma função, contribuindo para o que explode aos 4 minutos e 40 segundos do clipe, quando violinos, pianos, percussão, guitarras e vozes dão formas a um resultado raro, e que beira a perfeição. É como se tudo que a banda havia produzido anteriormente se encaminhasse para esse único momento.

Passados dois anos desde o lançamento do álbum – que acabou brilhando em uma série de listas como um dos melhores da temporada -, Chris Chu e os parceiros estão de volta, porém, não mais como o The Morning Benderns (o nome parecer ser uma gíria homossexual ofensiva na Europa) e nem próximos do mesmo desempenho de outrora. Agora sob o título de POP ETC, o trio californiano não apenas traz um novo título, como parece inclinado a investir em um som totalmente distante do que propunham há tempos, deixando de lado qualquer possibilidade de acerto, para investir em um terreno desconhecido por eles, mas ocupado (e desgastado) há tempos por outros: a música pop.

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=-JoDnjt0PbI]

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=6qgPkz-yPXU]

Se ao final de Big Echo, quando a experimental Sleeping In dava algumas dicas do que poderíamos encontrar nos futuros lançamentos da banda, que parecia se encaminhar para um registro ainda maior, assim que New Life, faixa de abertura do homônimo novo disco inicia percebemos que todas as apostas foram em vão. Com os vocais encobertos pelo auto-tune, teclados que se espalham da primeira à última música e letras pretenciosas, tudo funciona de maneira distinta e de intensa oposição ao que fora proposto em outras épocas. Não de forma inventiva e confessional, mas com o grupo fazendo uso de desgastados clichês.

Mesmo que em alguns (raros) momentos do álbum seja possível encontrar acerto e um mínimo equilíbrio – algo que a complexa I Wanna Be Your Man e Live It Up expressam de forma competente -, não há como ouvir a estreia do POP ETC sem encontrar uma série de referências praticamente sugadas de outros lançamentos recentes. Enquanto Back To Your Heart parece ser um misto de Foster The People, Matt & Kim e Justin Bieber (!), R.Y.B.se desenvolve como um encontro macabro entre Passion Pit e Glee, algo que os teclados excessivamente “alegrinhos” e os versos calculados de forma a soar radiofônicos entregam logo na abertura da canção. Tudo reflete exagero, talvez por isso não seja nem um pouco estranho que o ouvinte se sinta perdido ao longo do álbum, tamanho excesso de informação que ele apresenta.

Por mais que os defensores ferrenhos da banda possam atestar que estamos falando de um disco novo e de uma banda remodelada, os responsáveis pelo trabalho ainda são os mesmos pela criação do competente Big Echo, o que de forma alguma justifica o desempenho irregular do trabalho. Do recente vício de Chris Chu pela atual safra do R&B norte-americano (e a tentativa de reproduzir isso dentro do novo álbum), passando pela ausência de Chris Taylor (Grizzly Bear) na produção do atual projeto (não há como negar a influência dele no último disco do TMB), tudo parece encaminhar a proposta dos californianos para o erro. Se antes muitas coisas produzidas pelo trio pareciam capazes de comover e encantar o ouvinte na mesma medida, hoje o dobro delas parece envergonhar e causar constante desconforto.

POP ETC (2012, )

Nota: 4.0
Para quem gosta de: Foster The People, Passion Pit e Matt & Kim
Ouça: Live It Up

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/49081748″ iframe=”true” /]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.