Disco: “Portamento”, The Drums

/ Por: Cleber Facchi 01/09/2011

The Drumas
Indie Rock/Post-Punk/Alternative
http://www.myspace.com/thedrumsforever


Por: Gabriel Picanço

O The Drums, quando começou a aparecer para o público foi classificado como sendo mais um representante da nova onda surf music que explodiu, principalmente no último ano (2010), com o lançamento de discos de grupos como Surfer Blood, Beach Fosils, Best Coast e Wavves, só pra citar os mais importantes (e que têm alguma referencia à praia ou surf já no nome). Contudo o The Drums foi colocado na cesta errada.

Apesar da praia de let’s Go Surfing, a banda não se considera um filhote dos Beach Boys. Em entrevista, o vocalista e principal compositor do grupo, Jonathan Pierce, chegou a afirmar que nem mesmo gosta da banda. As grandes influências do grupo vêm do post-punk inglês. Fica bem fácil reconhecer um “quê” de Joy Division no baixo das músicas, além de um mix de Morrisey e Ian Curtis no modo que Jonathan canta. Até mesmo na postura, nas dancinhas, no visual e no clima que a banda se propõe a passar, fica clara a influência dessas e de outras bandas inglesas. E até aqui, nada que lembre tanto surf.

Hoje, depois de pouco mais de um ano do lançamento do primeiro disco, The Drums não decepciona com Portamento. Esse é um disco que, muito provavelmente, vai agradar quem gostou da estréia do grupo. Mas só para quem entendeu de verdade o que é o The Drums. Não é uma banda feliz, não se engane. Por mais que algumas das músicas soem felizes, o conteúdo é essencialmente encharcado de lamentações e melancolia. Em Portamento isso se intensifica. Não existe nem mesmo um faixa que chegue perto da festa que é Let’s go surfing, single do primeiro disco, e o seu clima de praia ensolarado, por exemplo.

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As letras permanecem bobinhas, porém sinceras. Em sua maioria, histórias de aflições amorosas e de dor-de-cotovelo típicas da adolescência. Como o cara que “quer comprar alguma coisa, mas não tem nenhum dinheiro” em Money, primeiro single do álbum. Impossível não se identificar. Jonathan Pierce lamenta mais do que canta em What you here. Sofrimento. Combinada com a linha sutil de saxofone, essa faixa é trilha sonora perfeita para um filme de romance adolescente dos anos 80. In The Cold, de tão romântica e melosa, chega a ser brega. Para quem não conhece a banda, deve ser difícil acreditar que se trata de uma gravação de 2011. Esse clima chega a ser algo que contagia, deixa o ouvinte letárgico, sem energia (para isso contribuem também a batida repetitiva e os graves dementes). E isso tudo, acredite, não é ruim. São apenas os sintomas da doença que se arrasta à séculos e é a preferida dos artistas desde muito tempo: “o mal romântico”.

Portamento mostra que a banda tem a sua sonoridade bem definida: as músicas se diferenciam pouco entre si. As características mais marcantes são, sem dúvidas, o baixo post-punk – descendente direto das quatro cordas mágicas e santas de Peter Hook – e as melodias bobinhas vindas de grupos pop da década de 60, como The Shangri-Las e The Ronnetes. Mesmo a saída do guitarrista Adam Kessler e os 12 meses que passaram não trouxeram muitas mudanças significativas às novas músicas além da adição de alguns elementos, principalmente eletrônicos, nas faixas. Fugindo do usual, somente o baixo sintetizado em How To Love, e Searchin For Havem, faixa mais diferente do grupo até agora, com apenas o vocal e um sintetizador com cheiro de naftalina que beira o sinistro.

Mas o tom em geral é da doce melancolia apaixonada presente nas melodias e letras de faixas como Book of Revelations, que abre o álbum, e Please Don’t Leave. Talvez, o principal ponto fraco do disco (e da banda) seja justamente a batida deliciosa e fácil de acompanhar que já é marca do The Drums. Tudo em excesso pode cansar. E a insistência na tal batida é tanta, que algumas vezes fica a impressão de “Já ouvi isso antes. E foi nesse mesmo álbum”.

Portamento (2011, Island Records)

Nota: 7.1
Para quem gosta de: Surfer Blood, The Vaccines e Beach Fossils
Ouça: Money

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.