Disco: “Positive Force”, Delicate Steve

/ Por: Cleber Facchi 06/07/2012

Delicate Steve
Experimental/Instrumental/Alternative
http://delicatesteve.com/

Por: Fernanda Blammer

Em um cenário de constantes revoluções sonoras, novos gêneros que despontam a todo instante e inovações frequentes que ampliam significativamente os limites da música, não é de se estranhar que em alguns momentos as guitarras acabem ficando em um segundo plano. Símbolo de uma infinidade de projetos antigos e até recentes, hoje o instrumento parece fluir de acordo com as exigências eletrônicas, batidas sintéticas e uma série de outros atributos sonoros que apenas afastam as guitarras da “proposta original”. Todavia, existe ainda quem entenda o real valor do instrumento e transforme isso na principal ferramenta de trabalho, algo que o grupo norte-americano Delicate Steve reforça em cada nova composição.

Embora hoje se defina como um quinteto, até pouco tempo atrás apenas a figura de Steve Marion (vocalista, guitarrista e líder da banda) parecia definir os rumos e composições assumidas dentro do projeto. O caráter de individualidade do músico, entretanto, acabou se revelando como um dos grandes erros de Wondervisions, disco de estreia da banda, que por vezes soava demasiado simples ou deveras copioso. Resultado natural em virtude da forte aproximação do disco com as primeiras criações da dupla Ratatat ou outros projetos norte-americanos que trazem na presença das guitarras o grande combustível para a formação das melodias.

Com Positive Force (2012, Luaka Bop), segundo registro do grupo, temos um oposto desse resultado. Perfeitamente alinhado, o trabalho ecoa sonoridades que se distanciam da singeleza de outrora, abraçando influências que por vezes tocam a música psicodélica e outras experiências que se relacionam diretamente com o pop. Mesmo que o disco ainda mantenha uma forte aproximação com os registros do Ratatat, hoje Marion e os demais parceiros de banda conseguem ir além desse limite, trazendo uma carga de novas referências instrumentais que vão de Animal Collective (principalmente da fase Strawberry Jam) à The Flaming Lips (do recente Embryonic). Novos sons que apenas ampliam e engrandecem a obra do coletivo.

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Talvez pela presença dos novos colaboradores – Mike Duncan (percussão), Adam Pumilia (baixo), Christian Peslak (guitarras), Mickey Sanchez (teclados) -, Marion parece compreender de fato todos os limites de sua obra. Logo não é difícil nos encantarmos por faixas como Positive Force, Two Lovers e Afria Talks To You, canções que levam os limites do trabalho do norte-americano a outros patamares. Por vezes brincando com a eletrônica e em diversos momentos se deixando conduzir por uma proposta totalmente experimental, o artista e os parceiros de banda mantêm no conjunto de 11 faixas instrumentais os acertos necessários para manter o ouvinte preso ao disco do princípio ao fim.

Curioso perceber que mesmo em se tratando de um projeto instrumental por natureza, Positive Force soaria ainda maior se fosse preenchido pelos versos. Melhor exemplo disso está em Redeemer, canção que apesar de surgir rodeada pelos coros de vozes ao fundo do extenso solo de guitarra,  clama pelas palavras. Percepção bem estabelecida na metade da canção, quando todos os elementos se alinham de forma crescente, abrindo espaço para o surgimento de um refrão empolgante que nunca chega. Até nos momentos mais doces do álbum, como a canção de encerramento Luna, é como se o grupo estabelecesse todas as estratégias para a entrada dos vocais, que em nenhum momento se revelam.

Para suprir essa carência de vocais, Marion e o quarteto que o acompanha deixa fluir uma nova carga de instrumentos antes invisíveis ou pouco explorados no primeiro disco do artista. A multiplicidade sonora – vinda principalmente dos bem executados teclados de Mickey Sanchez – acaba por expandir todos os limites do projeto, que ao encerrar a última faixa repassa sem dúvidas um sentimento de satisfação ao ouvinte. Positive Force parece ser um trabalho que poderia ir um pouco mais além, soando como um registro morno ou de preparação para algo maior que está por vir. Se em relação ao primeiro álbum temos um crescimento significativo, o que dirá os próximos discos.

Positive Force (2012, Luaka Bop)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Ratatat, Suckers e Dinosaur Feather
Ouça: Wally Wilder, Redeemer e Two Lovers

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.