Disco: “Pra Mim Você É Lindo”, Katia B

/ Por: Cleber Facchi 05/12/2012

Katia B
Brazilian/Chillout/Female Vocalists
http://www.katiab.com.br/

Por: Cleber Facchi

Katia B

Katia B é uma figura curiosa da música brasileira recente. Em constante produção desde que marcou estreia com o debut homônimo lançado em 2000, a cantora e compositora carioca flutua constantemente entre os olhares pontuais da mídia especializada e o completo desconhecimento do público, marca que deve ser rompida com a chegada do agradável Pra Mim Você é Lindo (2012, Independente). Quarto registro em estúdio da carioca, o novo álbum expande os domínios ante minuciosos e bastante específicos da ChillOut, assimilando na maior relação com a música brasileira uma marca de consolidação da carreira da artista.

Por mais que as associações ao trabalho de Bebel Gilberto sejam visíveis em grande parte do registro, B – do sobrenome Bronstein – vai além das incorporações hoje sonolentas da “conterrânea”. Ao posicionar a eletrônica em um segundo (ou terceiro) plano dentro do novo trabalho, a cantora se apega de maneira aberta ao instrumental orgânico, garantindo delicadeza e um caminho seguro para novos inventos. A própria Aprendendo a viver (parceria com Rubinho Jacobina), posicionada na abertura do álbum torna clara a proposta do novo álbum, que se dissolve entre batidas sintéticas, acordes brandos de violão, samples e os vocais sempre consistentes da artista.

Longe de se aproximar da mesma construção sonora que marca o trabalho de cantoras mais recentes como Tulipa Ruiz, Céu e Karina Buhr – cada vez mais fascinadas pelos sons alcançados ao longo da década de 1970 -, Katia vai de encontro ao que existe de mais confortável na música pop concebida ao final da década de 1990. Vez ou outra lembrando Goldfrapp (principalmente nos primeiros discos), a cantora utiliza da conexão com a música estrangeira como um complemento, firmando nessa troca constante de experiências sonoras e poéticas a matéria principal para promover cada etapa do novo álbum.

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Por justamente trazer uma concepção distinta em relação ao que funciona no presente estado da música nacional, mergulhar no interior do álbum traz ao ouvinte apenas novidade. Exemplo dessa diferenciação está em O Baile, faixa em que a cantora e o parceiro Jam da Silva quebram com a tonalidade dicotômica que tanto guia a formação de outros duetos por aí, com um se transformando em um complemento para o outro. Mezzo hip-hop, mezzo bossa nova, a romântica canção vem como um aperitivo e um ponto de distinção ao restante da obra, toda emoldurada por detalhes leves, quase um passeio onírico.

Dentro dessa concepção, o grande fascínio em Pra Mim Você é Lindo está relacionado com a maneira como cada música é trabalhada sutilmente. Longe de exageros, K aplica na delicadeza das bases e mínimos realces sonoros um atrativo natural ao ouvinte, que se espreguiça e aconchega com calmaria na produção doce do álbum. Em Armadilha, por exemplo, a colaboração com Teresa Cristina faz nascer um som que mesmo doloroso se faz íntimo do espectador, que parece abraçado durante toda a faixa pelos vocais suntuosos da dupla. A premissa se mantém até o fecho do álbum, quando Depois do Bloco, uma “vinheta”, puxa o ouvinte para uma nuvem doce de sintetizadores que em alguma medida remetem ao trabalho da dupla Cocorosie.

Se por um lado a ausência criações de maior impacto dificulta uma inicial aproximação com o trabalho, por outro lado a homogeneidade pacata do registro faz dele um projeto completo. Diferente dos registros anteriores – principalmente o último, Especial (2007) -, com o novo álbum Katia B se sustenta de maneira segura, falando sobre amor e sofrimento dentro de uma mesma proposta sonora. Enevoado e protegido por um delicado brilho matinal, Pra Mim Você é Lindo é um disco que cresce dentro de uma medida própria, sem exageros e rodeado por acertos.

Katia B

Pra Mim Você é Lindo (2012, Independente)

Nota: 7.9
Para quem gosta de: Bebel Gilberto, Tulipa Ruiz e Goldfrapp
Ouça: O Baile e Aprendendo a Viver

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.