Disco: “Pré Ambulatório EP”, Lê Almeida

/ Por: Cleber Facchi 30/10/2012

Lê Almeida
Brazilian/Lo-Fi/Indie Pop
http://transfusaonoiserecords.blogspot.com.br/

Por: Cleber Facchi

É possível lançar um disco de música pop sem que ele se estabeleça em cima de exageros típicos de trabalhos do gênero? Ouça o mais novo EP do músico carioca Lê Almeida e você verá que sim. Quebra dos percursos maduros assumidos no decorrer do primeiro disco “de estúdio” do músico, Mono Maçã (2011), em Pré Ambulatório o grande representante do Lo-Fi tupiniquim vai de encontro ao mesmo som leve e descompromissado que havia testado em um passado recente, acomodando guitarras sujas e vozes poluídas que grudam tanto quanto chiclete em nossos ouvidos. Diga adeus à limpidez óbvia do rock nacional, e deixe que Almeida te acompanhe em um lago psicodélico de versos fáceis e guitarras intencionalmente feitas hipnotizar.

Continuação aprimorada do que o responsável pelo selo Transfusão Noise Records – casa de bandas como Looking For Jenny, Top Surprise e Wallace Costa – havia testado no decorrer do adorável Revi EP (2009), ao pisar no novo trabalho Almeida abandona significativamente as aproximações com a obra de Robert Pollard (Guided By Voices) para se entregar de vez aos entalhes de Stephen Malkmus (Pavement). Ainda que o clima caseiro e a curta duração das faixas mantenha firme a conexão com obras clássicas de Pollard e sua banda, principalmente Alien Lanes (1995), a intensa relação com a psicodelia, detalhes de pura assimilação pop e versos que brincam com o nonsense arrastam o músico imediatamente para o misto de lisergia lo-fi que une Wowee Zowee (1997) com Slanted And Enchanted (1992).

Lê Almeida, entretanto, está além do resultado que outros músicos nacionais insistem em promover, se apegando ao passado, mas primando pela novidade durante toda a execução de qualquer lançamento. Melhor exemplo disso está na força dos versos em português, feito raro em um cenário consumido por bandas que cantam em inglês em uma medida que une J Mascis com Sonic Youth de forma pobre e redundante. Sempre apoiado em recortes aleatórios do cotidiano, o músico fala sobre amor, saudade e outros sentimentos joviais sem perder o bom humor, inclusive abrindo espaço para uma canção sobre o caimento perfeito das próprias calças jeans (Meu Jeans). A proposta – já explorada em músicas como Nunca Nunca e Canção pro Beto Guedes do EP passado – garante constante leveza e uma abertura para o ouvinte, que mesmo não acostumado aos ruídos naturais do álbum deve se identificar com os versos simples e cômicos que surgem ao longo das faixas.

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Diferente de outros “gigantes” da cena, Almeida parece voluntariamente interessado em se aproximar de um público maior, medida clara na maneira como as guitarras se abrem a percursos menos experimentais e principalmente na maneira como as letras grudam melódicas nos acordes ruidosos da obra. Enquanto Correscondido brinca com a psicodelia de forma incontestavelmente pop, Saudade Master permite que uma carga extra de distorções se converta em um bem elaborado tratado sobre a carência. Preferências que assim como as testadas no longínquo Revi impedem que o músico se perca em um resultado de conotações convencionais, entregando um disco que trata de sentimentos e temas ordinários de forma renovada – mesmo sem querer.

Com uma proposta de detalhes completamente opostos ao que circula no decorrer de Mono Maçã e assumindo um eixo muito mais pegajoso do que funciona em Revi, Almeida deixa claro que é ao lidar com exemplares de menor número de faixas que ele de fato atinge o melhor desempenho. Produto raro dentro do pop nacional – o rock, quando existente circunda dançante a massa colorida do álbum -, Pré Ambulatório funde as tensões, sonhos e fragmentos diários do músico de maneira a ressaltar aspectos tão simples do cotidiano que por vezes passam batidos ou são simplesmente esquecidos.

Pré Ambulatório EP (2012, Transfusão Noise Records)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Top Surprise, Wallace Costa e Hierofante Púrpura
Ouça: Correscondido e Meu Jeans

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.