Disco: “Present Tense”, Wild Beasts

/ Por: Cleber Facchi 27/02/2014

Wild Beasts
Indie/Alternative/Experimental
http://wild-beasts.co.uk/

A comodidade parece constantemente provocada dentro dos trabalhos da banda Wild Beasts. Incapaz de seguir a trilha programada do rock inglês, o quarteto de Kendal, Inglaterra vem desde a segunda metade dos anos 2000 em uma colagem instável de referências, sons e versos. Um mecanismo que se apresenta em meio a contornos formais, mas instável dentro de qualquer zona de conforto aparente. Depois de solucionar pontualmente as próprias experiências dentro da obra-prima Smother, de 2011, com a chegada do quarto trabalho de estúdio a banda parece se perguntar: qual direção seguir agora?

Invariavelmente orquestrado como uma continuação do álbum lançado há três anos, Present Tense (2014, Domino) é a construção de um novo universo dentro dos próprios limites do grupo. Valendo de um mesmo conjunto de preferências conceituais – como a música minimalista dos anos 1970, o existencialismo de Clarice Lispector e fragmentos da eletrônica atual -, a banda britânica fixa no reposicionamento das ideias um palco para as possibilidades. Uma estratégia inteligente em caminhar pelas sombras do disco passado, para revelar nuances antes inéditas dentro da obra do grupo.

Tão homogêneo quanto o disco que o antecede, o novo álbum usa da forte aproximação entre as músicas como um estimulo para a movimentação da obra. Tendo em Wanderlust, faixa de abertura, uma continuação de Smother e o caminho para o atual projeto, todas as bases e referências da banda são aos poucos alinhadas. A começar pelos sintetizadores, mais uma vez próximos da influencia declarada, a dupla Fuck Buttons, cada composição do disco se acomoda em meio a transições etéreas e ainda assim precisas. Um diálogo atípico que atravessa a essência de Steve Reich (já explorada no disco anterior) para mergulhar em aspectos específicos do novo Dream Pop. Depois de influenciar todo um time de artistas conterrâneos – entre eles Everything Everything e Alt-J -, a banda parece pronta para formar todo um novo conjunto de seguidores.

A julgar pelo catálogo crescente de singles – Wanderlust, Mecca, Sweet Spot e A Dog’s Life -, Present Tense talvez seja a obra mais descomplicada lançada pela banda. Cruzando a sensibilidade exposta em Two Dancers (2009), com a precisão instrumental do disco anterior, cada música cresce com liberdade em um cenário em que a dor é um mecanismo de atração. É difícil não se deixar conduzir pelo romantismo melancólico de Palace (“Você lembra a pessoa que eu queria ser”) ou o desespero em Mecca (“Nós nos movemos no medo, nós nos movemos no desejo/ Agora eu sei como você se sente”), faixas que ampliam a sensibilidade das primeiras canções lançadas pela banda.

Com um cenário talvez maior de possibilidades do que no disco anterior, Present Tense é um trabalho que amarra as pontas soltas de diversas obras influentes para as canções do grupo. Enquanto Sweet Spot revela o que seria um encontro entre o Radiohead da fase OK Computer (1997) com o Antony Hegarty do clássico I Am a Bird Now (2005), músicas como A Simple Beautiful Truth e Past Perfect investigam a década de 1980 em um senso de descoberta. Contrariando a lógica de grande parte dos artistas próximos, é possível encontrar desde traços da fase “synth” do Talk Talk – como em It’s My Life (1984) e The Colour of Spring (1986) -, até interpretações particulares do pop e de todos os clichês da época. Assim como em Smother, o óbvio encontra um novo conjunto de preferências nas mãos do grupo.

Como a capa do álbum logo entrega, Present Tense nada mais é do que um ponto de encontro para diversas referências. Em entrevista ao site DUMMY, Tom Fleming, guitarrista e vocalista da banda, afirmou que o novo disco é marcado pelo cruzamento de ideias, exercício que aproxima desde memes de cachorros, até o livro A Hora da Estrela (1986), de Clarice Lispector. A colisão de interesses e experiências mais uma vez reforça aquilo que a banda vem desenvolvendo desde o primeiro disco: a capacidade em brincar com o caos e extrair dele uma massa de sons que força a interpretação do público.

 

Wild Beasts

Present Tense (2014, Domino)

Nota: 8.8
Para quem gosta de: These New Puritans, Grizzly Bear e Local Natives
Ouça: Wanderlust, Mecca e Sweet Spot

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.