Disco: “Presente”, Gabriel Araújo

/ Por: Cleber Facchi 09/09/2015

Gabriel Araújo
Experimental/Psychedelic/Instrumental
http://gabrielaraujo.bandcamp.com/

Delicada espiral de vozes, cores e arranjos psicodélicos, Presente (2015, Independente), terceiro e mais recente álbum de estúdio do músico Gabriel Araújo, lentamente abre suas cortinas. Em pouco mais de 30 minutos de duração, a obra que se divide em apenas cinco faixas, encontra no experimento a busca por um som orquestrado pela atenta combinação de melodias aprazíveis e fórmulas instáveis. Uma lenta tapeçaria cósmica que se estende, seduz e conquista sem dificuldades a atenção do ouvinte, atraído para dentro desse universo de composições essencialmente mágicas.

Perto dos dois últimos registros de inéditas do artista de João Pessoa – também colaborador em bandas como Glue Trip e Meio Free -, Presente soa como uma clara evolução. Do som instável apresentado no debut de 2009 ou quando comparado ao instável Ludismo, de 2010, pouco do antigo material assinado por Araújo parece ter sobrevivido. Ainda que a proposta complexa do músico seja a mesma, vozes, ruídos e pequenas nuances instrumentais assumem o controle da obra de forma acessível, como se o músico “facilitasse” o caminho para a chegada do ouvinte dentro desse imenso labirinto psicodélico que cresce até os últimos instantes do álbum.

Parte dessa explícita transformação e maturidade surge como fruto do lento detalhamento da obra nos últimos anos. Enquanto os primeiros trabalhos do músico foram lançados em um curto espaço de tempo – pouco mais de um ano -, Presente levou quase cinco anos até ser finalizado e entregue ao público. Claro que no meio do caminho Araújo entregou ao público uma sequência de bem-sucedidos singles – Pantaleão, Demi, Implan e Caravana -, composições que funcionam como uma esboço criativo para o som agora explorado com maior atenção e refinamento por parte do músico.

Logo na abertura do álbum, a assertiva interferência de Eliza Araújo, artista responsável pelos versos da doce Saturno Canta, música que fica completa com a faixa de encerramento, Saturno Dança, criando a linha conceitual que sustenta e amarra todo o trabalho. “Canta que o teu canto é pouco“, entrega a convidada em um preciso jogo de palavras que parecem costuradas aos arranjos da faixas. Uma lenta sobreposição de cordas e bases sujas, sempre hipnóticas, íntimas da essência Psy-Folk que acompanha a obra de Araújo desde os primeiros discos.

Com a chegada de Encanto, segunda faixa do álbum, a passagem para o lado surrealista do trabalho. Junto da dobradinha Irena & Raquel e Encontro, são mais de 20 minutos em que Gabriel Araújo e o time composto por Rayssa Melo (Violinos), Bel (Saxofone) e Flavio Teles (Bateria) brincam com os sentidos do ouvinte. Mesmo sem fazer uso das palavras, uma avalanche de ruídos, sons desconexos e pequenas quebras rítmicas detalham um mundo de histórias e personagens fantásticos. Segundos de explosão, ruptura e recolhimento que aproximam com naturalidade o álbum do Free Jazz.

Passado esse turbilhão de sons, a entrega da derradeira Saturno Dança. Espécie de prólogo, com a chegada da faixa Gabriel Araújo amarra as pontas soltas deixadas ao longo do trabalho, regressando ao ambiente de emanações brandas apresentado pela convidada Eliza Araújo na primeira faixa. Um respiro breve, ainda eufórico, quease acelerado, como um efeito natural da overdose colorida que recheia o álbum.

Presente (2015, Independente)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Mahmed, Glue Trip e Guizado
Ouça: Encanto, Saturno Canta e Encontro

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.