Disco: “Pull My Hair Back”, Jessy Lanza

/ Por: Cleber Facchi 05/09/2013

Jessy Lanza
Electronic/R&B/Female Vocalists
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Por: Cleber Facchi

Jessy Lanza

Jessy Lanza tinha tudo para se transformar em uma simples ferramenta. Apenas mais uma voz aos comandos e orientações estéticas de um ou mais produtores, postura que a artista canadense (felizmente) está longe de repetir com o primeiro álbum da carreira. Dona de um catálogo ainda escasso de composições que flutuam entre o R&B – antigo e recente – e a eletrônica, principalmente a que borbulha em solo britânico, a cantora/produtora norte-americana quebra a lógica de Jessie Ware, Aluna Francis e qualquer outro nome do cenário presente para transformar Pull My Hair Back (2013, Hyperdub) em uma obra de passos, temas e rumos próprios.

Acompanhada de perto por um experiente Jeremy Greenspan, uma das metades do projeto canadense Junior Boys, Lanza encontra no misto de composições climáticas e acalentadas um cenário que vai da pista ao quarto em poucos instantes. Observando com uma lupa tudo o que carrega o panorama eletrônico inglês – proposta que atravessa a obra de Burial, Four Tet e Joy Orbison, até alcançar os novatos SBTRKT, Mount Kimbie e Disclosure -, mas sem perder a essência do Rhythm and blues, a artista firma no teor letárgico dos sons um princípio para concentrar todas essas referências. Lanza, na contramão da cena atual, parece desacelerar.

Esculpido em um detalhismo que confunde o argumento sintético dos arranjos com as vozes, Jessy estabelece em  Pull My Hair Back um trabalho que lida com todos os elementos em um efeito constante de diminuição. Cada batida, voz ou pequena manipulação instrumental parece feita para esfarelar nos ouvidos do espectador, rastro que segue até o último instante do álbum. Bastam as confissões melancólicas da faixa título ou de 5785021 para perceber isso. Tratadas em um loop climático de batidas e vozes, as canções arrastam a presença da cantora em um misto de saudade e drama confesso, o que, ainda assim, está longe de repetir o mesmo teor de grandeza que naturalmente paira em outros trabalhos do gênero.

Com um olhar específico para a década de 1990, Lanza e o convidado parecem resgatar com atenção o trabalho de Aaliyah, o princípio da UK Garage e até um tempero extra da Balearic Beat/House do fim dos anos 1980. Colagens, sobreposições e uma linha guia trabalhada com identidade que naturalmente afasta Jessy de boa parte dos outros projetos recentes. Longe de soar minimalista, apenas precisa, a canadense vai aos poucos diluindo referências e acumulando sensações até transformar o álbum em uma imensa massa de reverberações. Um tratamento que cresce com leveza na atmosfera de Fuck Diamond, Against the Wall e demais canções centradas do meio para o fim da obra.

Mesmo dançando em um cenário de plena timidez, Lanza concentra em momentos específicos do trabalho faixas alimentadas pela grandeza. Exemplo mais específico disso está na aceleração pontual de Keep Moving, canção que raspa no synthpop oitentista até esculpir um refrão melódico a próximo das pistas. Já As If usa do mesmo efeito, porém, dentro de uma composição distinta. Crescendo em pequenas doses, a canção firma no uso dos sintetizadores um princípio para que pequenas ondulações climáticas alcancem o ápice ao final da música.

Livre do mesmo compromisso estético que impulsiona o trabalho de outros artistas próximos – principalmente mulheres -, Lanza faz de Pull My Hair Back um registro que flutua momentaneamente entre comercial e o excêntrico. Instantes anunciados de complexidade hermética e libertação que nunca escapam da homogeneidade do álbum. Ainda que as vozes, sons e bases instrumentais que acompanham a artista sejam encaradas em um efeito pouco convencional, excluir o brilho pop que circunda Kathy Lee, Keep Moving e demais faixas acessíveis da obra seria um exagero. Logo, Jessy faz do debut um pequeno labirinto, espaço cercado por densas paredes sonoras capazes de acrescentar texturas e distintas formas tão logo um novo beat é aplicado.

 

Jessy Lanza

Pull My Hair Back (2013, Hyperdub)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: AlunaGeorge, Jessie Ware e SBTRKT
Ouça: Pull My Hair Back, As If e Kathy Lee

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.