Disco: “Pura Vida Conspiracy”, Gogol Bordello

/ Por: Cleber Facchi 01/08/2013

Gogol Bordello
Gypsy Punk/Alternative/Punk
http://www.gogolbordello.com/

 

Por: Cleber Facchi

Gogol Bordello

A efemeridade sempre fez parte do Punk. Basta observar a obra escassa de gigantes do gênero – ou pelo menos os mais relevantes – para perceber o quanto a curta duração dos projetos ecoa como um complemento natural à crueza dos sons. Da extinção quase imediata do Sex Pistols e Buzzcocks, ao período de ascensão e queda do The Clash, “viver pouco” parece exercer um sentido de ordem natural ao estilo. Uma alternativa para evitar a redundância. Claro que há sempre exceções, caso dos britânicos do Wire e The Fall, veteranos que encontraram na transformação um sustento para se manter em plena e inventiva composição. O que, ainda assim, não exclui a presença de obras descartáveis na discografia de ambas.

Mas o que dizer do Gogol Bordello? Por mais que Eugene Hütz, vocalista e líder da banda derrame sobre o grupo uma avalanche de referências tomados pelo regional, há no esforço agressivo dos instrumentos, vozes e temas uma visível imposição do Punk Rock. Cresce a cada álbum do grupo o famigerado “Punk Cigano”, efeito que o músico orienta como identidade para os trabalhos da banda, mas que nada mais é do que uma desculpa criativa para fantasiar novidade. Presa em um ciclo musical marcado pela repetição de ideias, a banda regressa a cada “novo” disco ao mesmo estágio temático do primeiro álbum, Voi-La Intruder (1999), provando que o Punk – cigano ou não -, uma hora precisa acabar, ou então se renovar de fato.

Inteligente, Hütz sabe como poucos a arte de hipnotizar o público. Enquanto em estúdio o músico reforça uma verdadeira orquestra – resgatando a essência do The Pogues e da música do leste europeu em uma linguagem particular -, ao vivo a banda invoca na composição “cigana” dos arranjos e vozes um verdadeiro transe coletivo. Trata-se de um espetáculo assumido, com atos fragmentados de forma crescente, com o público sendo arrastado para junto da onda épico-dançante proposta pela banda. É justamente dentro desse misancene que Hütz esconde as repetições e imperfeições do grupo, uma discografia que nada mais é do que uma mesma obra repetida exaustivamente.

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Com Pura Vida Conspiracy (2013, ATO), sexto registro em estúdio da banda, não é diferente. Do título forte aos temas que observam diferentes aspectos da condição humana, tudo é encaixado em um teor musical de arquitetura intensa. Assim como nos discos anteriores, Hütz conta histórias, delimita personagens e observa aspectos cotidianos enquanto distribui os versos em um sotaque caricato. São letras de esforço filosófico-existencial, como em Dig Deep Enough, ou instantes de simples diversão, em Malandrino e We Rise Again. Faixas que compõem o produto final do disco, mas que repetem os mesmos rumos dos álbuns anteriores – e possivelmente do que deve guiar a banda futuramente.

Assim como já havia identificado no álbum anterior, Trans-Continental Hustle (2010), Eugene e os demais parceiros de banda agora prezam pela limpidez dos sons. Com uma maior atenção em estúdio – resultado da imposição da ATO records, braço da gigante Sony Music -, a banda se livra do descompromisso para reforçar um trabalho marcado pela seriedade. A mesma velha fórmula já definida desde o primeiro disco, porém, em um esforço comercial maior, o que até neutraliza a intensidade do grupo em alguns aspectos do trabalho. Nada além do “bom e velho” Punk Cigano, agora formatado para as massas.

De brilho óbvio para quem talvez venha a descobrir o trabalho do grupo somente agora, Pura Vida Conspiracy custa a engrenar para quem já conhece as artimanhas do grupo. Nem os mesmos artifícios impostos em Multi Kontra Culti vs. Irony (2002) e Gypsy Punks: Underdog World Strike (2005) o coletivo parece administrar de forma inteligente, resumindo todo o trabalho em um imenso Wonderlust King limpo, cíclico e pronto para descarte.

 

Gogol Bordello

Pura Vida Conspiracy (2013, ATO)

Nota: 5.0
Para quem gosta de: J.U.F., DeVotchKa e Kultur Shock
Ouça: Dig Deep Enough e Malandrino

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.