Disco: “Push The Sky Away”, Nick Cave and The Bad Seeds

/ Por: Cleber Facchi 28/03/2013

Nick Cave & the Bad Seeds
Rock/Alternative/Singer-Singwriter
http://www.nickcave.com/

 

Por: Gabriel Picanço

Nick Cave

Depois de 30 anos de carreira, Nick Cave definitivamente não precisa fazer muito barulho para que todos fiquem atentos ao que ele tem para mostrar. Mesmo que sussurrasse em suas músicas, silêncio seria feito e todos o ouviriam com muita atenção. Isso porque depois de 15 álbuns com a sua banda principal, The Bad Seeds, o compositor australiano conquistou há muito tempo o respeito de quem ouve música, justamente por sempre manter uma produção de altíssima qualidade e, ocasionalmente, ser responsável por grandes álbuns. Clássicos como Your Funeral… My Trial, de 1986; Murder Ballads, de dez anos mais tarde; Abattoir Blues/The Lyre of Orpheus de 2004. Nick Cave and the Bad Seeds é uma poucas bandas que conseguiram se manter produzindo com qualidade e relevância por tantos anos.

Um dos motivos do sucesso duradouro do grupo foram as diferentes direções que a sua sonoridade tomou durante os anos. Mesmo que não tenham escolhido caminhos muito radicais, a banda soube manter-se original, apresentando algo novo a cada disco. Ainda hoje, mesmo com tantos anos de carreira e já tendo assegurado com certa segurança o o lugar como uma das maiores e mais influentes bandas do rock alternativo, Nick Cave And The Bad Seeds não se acomoda. Longe disso, a experimentação continua sendo um dos principais atrativos do grupo. Basta comparar superficialmente a discografia de Nick Cave nos últimos 10 anos (incluindo é claro, o seu projeto paralelo com o também Bad Seed Warren Ellis, Grinderman) para constatar que a música do australiano continua se transformando.

Push The Sky Away (2013, Bad Seeds Ltd.) soa como se no último disco da banda, o garageiro Dig, Lazarus, Dig!!! (2008) e principalmente nos dois discos de Grindermam, Cave tivesse explodido toda a violência sonora que tinha dentro de si: os gritos, as guitarras pesadas, as distorções e a velocidade foram esgotados. Agora, como depois de uma terapia ou seção de descarrego, o compositor volta de forma mais relaxada, sombrio e introspectivo do que nunca. Conduzidas por poucos instrumentos (principalmente piano e baixo) que se repetem em loop gerando um efeito hipnótico em cada música, as faixas do disco quase flutuam. Em cada uma há a sensação de espaço e leveza. Melodias flutuam enquanto Nick Cave, meio cantando, meio falando, sem pressa, conta histórias belas e melancólicas. Jubilee Street e Higgs Boson Blues são dois dos únicos momentos onde bateria e guitarras são tocadas de forma mais impetuosa, mas mesmo assim, não fogem do tom geral do álbum.


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Por fechar um período consideravelmente barulhento da discografia de Nick Cave, Push The Sky Away soa ainda mais suave, mas sem deixar de ser intenso. O disco é cheio de beleza, ainda que por vezes ela seja muito sombria e que traga junto o medo e a confusão. Uma beleza perigosa, como a das sereias e prostitutas, personagens que rodeiam os cenários das músicas do disco. As sereias, presentes em Mermaids e ainda em Wide Lovely Eyes, funcionam como uma metáfora perfeita da atração irracional, incontrolável e perturbadora que enfeitiça homens e os leva para o fundo do mar. Usando poucas cores e muito espaço, são pintados quadros simples e belos, mas com algumas imagens perturbadoras.

A adoção de um tom mais minimalista nas músicas, além de refletir a saída do guitarrista Mick Harvey, um dos fundadores do grupo, também serve para dar mais destaque as letras de Nick Cave.  E em cada uma das memoráveis faixas do disco, ele esbanja a sua absoluta genialidade como compositor. Quantos mais teriam a manha, por exemplo, de narrar em uma música um sonho macabro ocorrido justamente após o compositor terminar uma das canções desse mesmo disco? É o que acontece em Finishing Jubilee Street, onde uma criança misteriosa passa a atormentar os sonhos de Cave após ele finalizar Jubilee Street. Na épica e febril Higgs Boson Blues, além de fazer referência à partícula de deus, ele cruza por Hannah Montanta e Miley Cyrus em diferentes momentos e testemunha o bluseiro Robert Johnson firmando o seu famoso pacto com o Diabo em uma encruzilhada.

Ainda que uma atmosfera propositalmente confusa e perdida esteja presente durante Push The Sky Away, o que realmente caracteriza o disco é a harmonia com que tudo é costurado. A combinação entre melodias delicadas, vocais profundos e letras tocantes e originais resulta em um dos melhores registros de 2013. É mais arriscado dizer se o álbum já pode ser considerada uma obra-prima na sua impecável discografia, mas sem dúvidas é prova de que Nick Cave se mantem relevante e inovador.

 

Nick Cave

Push The Sky Away (2013, Bad Seeds Ltd.)


Nota: 8.2
Para quem gosta de: Grinderman, Tom Waits e PJ Harvey
Ouça: Jubilee Street, Higgs Boson Blues e Mermaids

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.