Disco: “Quack”, Duck Sauce

/ Por: Cleber Facchi 22/04/2014

Duck Sauce
Electronic/Disco House/Dance
https://soundcloud.com/ducksaucenyc

Por: Cleber Facchi

Duck Sauce

Se existisse um tipo de separação territorial entre a “eletrônica inteligente” e a “eletrônica para as massas”, Armand Van Helden e A-Trak estariam exatamente no encontro entre estes dois opostos conceituais. Atentos ao que impera como exigência dentro das esferas mais comerciais da música, porém, vindos de uma escola madura de experimentos sintéticos, o duo norte-americano fez do Duck Sauce um verdadeiro cruzamento de essências. Um efeito que o hit Barbra Streisand trouxe em um raro desprendimento pop-cult, Big Bad Wolf exagerou em de forma escrachada em som e imagens, mas Quack (2014, Fool’s Gold), aguardada estreia do duo, transmite em um dinamismo natural.

Distante de possíveis surpresas, o cobiçado debut se revela como uma verdadeira coleção de pequenos sucessos conquistados ao longo dos anos. Estão lá músicas como a funkeada aNYway, lançada em 2009, as nostálgicas Radio Stereo e It’s You, entregues em 2013, além, claro, da “homenagem” feita especialmente para Streisand. Preguiça? Pelo contrário, apenas uma cola necessária para o catálogo de pequenas novidades dissolvidas no decorrer da obra. Faixas que brincam com a inicial estética da dupla e aos poucos rumam para um cenário de evidente novidade. Ou quase isso.

Com ares de mixtape nostálgica ou programa de rádio abastecido por clássicos dos anos 1970 – tamanha a carga de interferências vocais e colagens bruscas dentro de cada faixa -, Quack mantém firme o principal componente na obra do Duck Sauce: o descompromisso. Por todos os lados do disco, músicas essencialmente comerciais e íntimas da Disco House emulam referências tão empoeiradas quanto dançantes. Um caminho direto para a dupla alcançar o grande público, se não fosse a comicidade aleatória que reforça o parcial hermetismo da dupla transmitido nos diálogos do álbum. Não chega a ser uma piada interna, mas limita, de forma quase proposital, o crescimento do registro.

Em um exercício de continuação ao que Daft Punk (Random Access Memories), Blood Orange (Cupid Deluxe), Toro Y Moi (Anything In Return) e tantos outros artistas proclamaram no último ano, Quack é um passeio pela música concebida há quase quatro décadas. Todavia, enquanto a seriedade e o esforço referencial parecem guiar o trabalho de boa parte dos artistas, como um mergulho na década de 1970, a estreia do Duck Sauce jamais se distancia do presente. Basta um passeio pela fluência acelerada de Spandex ou da pop Goody Two Shoes (com um perfume de Chromeo) para perceber a relação entre a Disco Music e a EDM – presentes em essência ao longo da obra.

Nostálgico, ainda que recente, Quack amarra as pontas soltas entre o passado e presente dentro de um único propósito: fazer o público dançar. Seja nas interferências da música negra, em Charlie Chazz & Rappin Ralph, ou no rock suingado, caso de NRG, cada composição do álbum abraça com força esse efeito pop. Uma preferência que faz com que o disco assuma o mesmo preciosismo melódicos de outras obras ainda recentes, como (cross), da dupla Justice e (até) algumas canções da fase inicial de Calvin Harris.

Feito como uma trilha sonora para a noite, Quack funciona como uma espécie de extensão natural de qualquer festa. Estão lá músicas de aquecimento (It’s You), cancões que funcionam perfeitamente nas pistas (Ring Me) e até faixas que escapam desse território, transportando o ouvinte para “o mundo real” (Time Waits For No-One). Aleatório, ainda que conciso, a estreia do Duck Sauce é tudo aquilo que Armand Van Helden e A-Trak vêm desenvolvendo desde as primeiras canções, solucionando um trabalho pop, dançante e pegajoso, mas, nem por isso, um registro descartável.

 

Quack

Quack (2014, Fool’s Gold)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Chromeo, Justice e A-Track
Ouça: It’s You, Barbra Streisand e Ring Me

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.