Disco: “Que Assim Seja”, Rashid

/ Por: Cleber Facchi 23/03/2012

Rashid
Brazilian/Hip-Hop/Rap
http://www.myspace.com/mcrashid

Por: Cleber Facchi

Feito o ponto final esperançoso de uma reza, o mineiro/paulistano Michel Dias Costa, o Rashid, titula como nome de Que Assim Seja a segunda e mais recente mixtape de sua carreira. Expressão marcada pela esperança, religiosidade e pela fá, a curta frase parece dar o acabamento e o significado perfeito para o conjunto de composições fortes que se acomodam no interior da obra. Não mais inspirado pelo reflexo comercial do trabalho anterior, o também brilhante Dádiva e Dívida (2011), surge um registro inteiramente motivado pelas histórias – sejam elas tristes ou de conquistas – que parecem ganhar formas e também imagens em cada verso ou sentença que vai sendo apresentada.

Longe das referências quase dançantes que proporcionaram beleza, harmonia e distinção a faixas como Porradão de 5 e Vou Ser Mais, Rashid se concentra na simplicidade das batidas e das bases para solidificar a lírica do novo projeto. Ainda mais focado nas mazelas do que no trabalho anterior, o novo disco cresce não apenas em volume (são 20 faixas e mais de 70 minutos de duração), mas nos retratos que elabora entre o abrir da canção título e o encerramento épico de Sua Força é Minha Força, composição que pontua com dureza o corpo quase melancólico e amargo que é construído no decorrer da obra.

Não deve se esquecer de uma coisa: não sinta piedade de ninguém como fez até hoje. Isso pode causar sua morte”. Dentro dessa lógica forte vinda do sample que abre a crua Quando Eu Morrer, Rashid vai costurando toda a condução do álbum, que mesmo tocado pelo tom esperançoso apresentado logo no título da mixtape, por vezes abandona a esperança e se deixa conduzir pela tristeza, o abandono e a dor. Exemplo forte disso está na construção de Drama, música montada ao lado do paulistano Ogi e faixa que melhor expõe o aspecto negativista do álbum. “O mundo só te joga bombas” proclama a dupla naquele que é o momento sufocante do trabalho.

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Mesmo sóbrio e afundado em referências macambúzias, Que Assim Seja possibilita em diversos momentos que Rashid respire suave e encarne alguns trechos menos delimitados pelo padrão firme do álbum. Surgem assim composições aos moldes de Rolê de Kadet e Em Alguma Esquina, músicas que funcionam como um rápido passeio ensolarado pela estética cinza do registro, reflexo da sonoridade comercial e dos beats leves que muito se assemelha ao que fora projetado pelo rapper no disco anterior. É nessa hora que o “assim seja” do título ganha novo significado, como se Rashid quisesse focar o trabalho nesse tipo de som, mas a crueza das imagens que o cercam acabassem o puxando para um outro lado.

Da mesma forma que em Dádiva e Dívida, muito do que compreende a força do atual trabalho vem não dos versos certeiros de Rashid, mas sim do grupo de produtores competentes que auxiliam o rapper na execução do trabalho. Laudz, Skeeter, Mr. Break, Renam Saman e principalmente DJ Caíque dão o sustento necessário para que faixas como Se O Mundo Acabar, V de Vingança e Vai Virar, algumas das grandes músicas do álbum, tenham de fato o impacto e a força que se revela no decorrer do disco. Mesmo o próprio rapper quando assume a condução das faixas não fica para trás, demonstrando uma grande evolução em relação as mesmas técnicas testadas no álbum anterior.

Talvez falte ao novo disco o mesmo dinamismo proposto no trabalho de 2011 ou mesmo no EP Hora de Acordar (2010), afinal, músicas como Primeira Classe (que tem a boa produção de DJ Caíque prejudicada pela letra clichê da composição) ou R.A.P (com o rapper chovendo no molhado em mais uma letra que expressa a importância do estilo) acabam por prejudicar a boa condução do álbum. Mesmo com alguns desvios, Rashid segue firme na construção de uma das mais sólidas carreiras do rap nacional, produção deve se estender ainda mais e consequentemente gerar frutos tão bons quanto alguns dos propostos dentro da nova mixtape. Que assim seja.

Que Assim Seja (2012, Independente)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Projota, Kamau e Emicida
Ouça: Drama, Se o Mundo Acabar e Muito Mais

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.