Disco: “Quebra Azul”, Baleia

/ Por: Cleber Facchi 11/10/2013

Baleia
Brazilian/Alternative/Indie
http://www.baleiabaleia.com/

Por: Cleber Facchi

Baleia

O tempo apenas trouxe benefícios ao trabalho do coletivo carioca Baleia. Se até poucos meses os contornos jazzísticos e a brincadeira em “amadurecer” o pop servia como base ao cenário instrumental do grupo, ao passear pelo campo  que se abre em Quebra Azul (2013, Independente), primeiro registro em estúdio, a banda prova que pode ir ainda mais longe. Estranho e acessível em uma divisão exata, o álbum esforça um resultado que segue na contramão do que outros coletivos nacionais insistem em apostar, trazendo na real quebra – de vozes e sons – o apoio para uma obra que mesmo passadas diversas audições, ainda esconde um catálogo imenso de surpresas.

Quem pensava que a versão refinada de What Goes Around Comes Around, de Justin Timberlake, seria a pista a ser explorada pela banda, logo ao pisar nas melodias adocicadas da inaugural Casa vai ver que os rumos do grupo são outros. Longe dos versos em inglês, também testados em Killing Cupids, o sexteto – representado por Cairê Rego, David Rosenblit, Felipe Ventura, João Pessanha, Gabriel e Sofia Vaz – encontra no bem planejado uso dos arranjos um labirinto mutável de experiências. Do orquestral ao rock, do Jazz ao pop, a aposta dos cariocas é a transformação, o que faz de cada integrante da banda em uma peça significativa para a movimentação do disco.

Longe de percursos acessíveis ou versos emoldurados com foco no grande público, Quebra Azul é uma obra para quem gosta de ser provocado e, principalmente, pede por isso. Se em instantes a banda dança a passos lentos (Jiraiya), basta piscar para que ela salte (In). Ponto de convergência de ideias – externas e principalmente internas -, o grupo observa cada composição do registro de forma isolada. Dessa forma, por mais curto que seja o exemplar proposto pelo sexteto, vide Breu e seus pouco mais de três minutos de duração, o manuseio autêntico de diferentes texturas amplia com naturalidade a construção da obra.

Atravessar a estreia do coletivo Baleia é ser presenteado por um oceano de referências. Enquanto Casa esbarra nas harmonias acústicas de Beirut e The Decemberists, Motim e Fuga, logo em sequência, percorrem as vozes e a percussão típica do Dirty Projectors. Sobra espaço para uma passagem pelos anos 1970, em In, um pouco da MPB pós-Los Hermanos, com Breu, além de um jogo imenso de interferências que desaparecem tão rapidamente quanto surgem. O mais curioso nesse resultado talvez seja perceber o quanto toda a essência do coletivo funciona desconstruída, tudo e nada em uma espécie de reverência que nunca existiu.

Tão excêntrico quanto o conjunto sonoro que aponta as direções da obra, são os versos que ela carrega. Planejadas de acordo com os rumos instrumentais do disco, as palavras se espalham de forma a impulsionar o canto torto do coletivo. Basta observar a extensa faixa de encerramento, Despertador, em que o verso “eu não quero, eu não quero” se acomoda muito mais como um “instrumento” extra para o emaranhado ruidoso da canção, do que como um ponto de significado em si. Mesmo quando aposta em um efeito mais simples, caso da melódica Furo 2 (Sangue do Paraguai), cada verso derramado pela banda parece fluir como um complemento ou por vezes até um alicerce para os sons.

Mesmo desenvolvido em um tratamento de desafio, Quebra Azul é uma obra que não exclui os momentos de maior afinidade com o público médio. De fato, parte substancial do disco é preenchido por um imenso quebra-cabeça de versos, vozes e entalhes instrumentais que parecem planejados para prender o espectador. São os vocais em Motim, a celebração nos acordes de In ou mesmo o jogo de palavras que habita em Fuga 2, prova de que a leveza e o lado “pop” do grupo existe e atende às exigências, apenas encontrou um novo caminho para solucionar isso.

 

Baleia

Quebra Azul (2013, Independente)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Wado, Dirty Projectors e Banda Gentileza
Ouça: Motim, Furo e Furo 2 (Sangue do Paraguai)

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.