Disco: “Rave Tapes”, Mogwai

/ Por: Cleber Facchi 21/01/2014

Mogwai
Post-Rock/Instrumental/Alternative
http://www.mogwai.co.uk/

Por: Cleber Facchi

Depois da euforia, silêncio. Em quase duas décadas de andanças pelo Pós-Rock, ao alcançar Rave Tapes (2014, Rock Action) os escoceses do Mogwai buscam por uma evidente zona de conforto. Em uma orientação opositiva ao que Hardcore Will Never Die, But You Will (2011), sétimo registro em estúdio, trouxe de forma exageradamente caótica há três anos, o novo disco usa da leveza como um estágio de agitação estrutural. De volta à estética dos primeiros álbuns, a banda une passado e presente em uma obra de puro recolhimento.

Sustentado pela mesma massa de experimentos testada desde o registro de estreia, Young Team (1997), o novo álbum encontra na interferência de equipamentos analógicos – principalmente sintetizadores – um mecanismo de transformação para a proposta do grupo. Seguindo as pistas apontadas por Remurdered, lançada há alguns meses, o presente disco ruma para a década de 1970, usando de referências ao Krautrock como um matéria-prima para o movimento autoral de boa parte das canções.

Brando e propositalmente homogêneo, o álbum em nenhum momento ultrapassa o que parece ser um limite estratégico instalado na inaugural Heard About You Last Night. Comprometidos a abafar a agressividade do disco de 2011, a banda passeia por entre arranjos atmosféricos e passagens climáticas extremamente precisas. São acordes cíclicos, atos típicos do pós-rock e uma coleção de texturas que apenas harmonizam o delineamento específico do trabalho. De forma tradicional, uma obra que brinca com as paisagens instrumentais da banda, mas em um sentido de envelhecimento proposital da própria estética.

Como um registro perdido dos anos 1970, Rave Tapes iguala em faixas como The Lord Is Out Of Control e Deesh uma expressiva comunicação com obras da época. Da composição robótica do Kraftwerk pós-Autobahn (1974), aos encaixes flutuantes de Zuckerzeit (1974), do duo Cluster, cada faixa revelada pelo disco escoa como um resgate temporal específico. O resultado está na construção de músicas que mesmo atuais, parecem empoeiradas pela trama de acréscimos analógicos e emulações características da música proposta no período. Uma obra em que a captação digital se transforma em um agregado de fitas magnéticas e manipulações artesanais há tempos esquecidas.

Mesmo com os ouvidos e instrumentos apontados para o passado – proposta impressa até mesmo na capa nostálgica do disco -, Rave Tapes é um trabalho que brinca de forma inteligente com a própria base do Mogwai. Exemplo mais evidente disso está na construção ascendente de Blues Hour, na segunda metade do disco, ou mesmo no manuseio glorioso das guitarras posicionadas na comovente No Medecine For Regret. A própria inclusão dos vocais, em alta no disco passado, volta a se repetir de forma bastante característica, como um específico complemento instrumental, nunca lírico.

Desenvolvido em uma atmosfera própria, o novo álbum segue uma cartilha opositiva ao que The Hawk Is Howling (2008) e demais obras “recentes” pareciam manipular em uma direção sempre mutável de experiências. Ainda que a timidez e até mesmo a construção de arranjos já testados em outros discos tirem do álbum um suposto caráter de ineditismo, a íntima relação entre as músicas parece acolher o espectador sem qualquer dificuldade. Ao final, o grupo não apenas garante uma trilha sonora alternativa para os grandes clássico da Ficção Científica, como apresenta ao ouvinte um cenário vintage-futurístico que cheira a novidade.

 

Mogwai

Rave Tapes (2014, Rock Action)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Explosions In The Sky, Mono e Kraftwerk
Ouça: Remurdered, The Lord Is Out Of Control e Deesh

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.