Disco: “Raven in the Grave”, The Raveonettes

/ Por: Cleber Facchi 25/03/2011

The Raveonettes
Danish/Indie Rock/Shoegaze
http://www.myspace.com/theraveonettes

Por: Cleber Facchi

Depois dos anos 2000 o número de duplas de rock marcadas por um som cru, sujo e visceral cresceu de maneira absurda, sendo praticamente impossível mapear a gama de novos Jack e Meg White que surgiam diariamente. Em meio a tanta gente que surgiu e desapareceu sem antes conseguir seus merecidos quinze minutos de fama, alguns nomes sem dúvida acabaram se destacando e consequentemente sobrevivendo em meio ao desafiador cenário musical, dentre os felizardos sobreviventes estão os dinamarqueses do The Raveonettes.

A dupla formada por Sune Rose Wagner (guitarrista e demais instrumentos) e Sharin Foo (vocais) é um claro fruto do novo século. Surgida em 2001 na capital dinamarquesa Copenhagen a banda logo ultrapassou as barreiras de local, se aventurando em diversos festivais europeus. Com o lançamento do primeiro disco em 2003 (Chain Gang of Love) a banda que já era conhecida no circuito underground teria seu merecido reconhecimento ao redor do globo. Na sequência mais três discos fundamentais, até essa volta com o obscuro Raven in the Grave (2011).

Enquanto outras duplas como o The Kills (que recentemente lançou o ótimo Blood Pressures) ou mesmo o The White Stripes davam vazão a um tipo de som muito mais marcado por guitarras rasantes e energizadas pelo punk, a dupla dinamarquesa busca suas referências no rock shoegaze do princípio da década de 1980, mais especificamente através de bandas como The Jesus and The Mary Chain. Há também alguns toques de bandas como Blondie e Television, além de algumas referências a The Velvet Underground, enfim, um bem resolvido histórico de sons e referências.

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Em seu quinto disco, a dupla se afunda melancolicamente no uso de sons rebuscados que em determinados momentos se apegam fácil ao dream pop, sem contar nos leves toques de música gótica, mas tudo de forma sofisticada e quase imperceptível. Os vocais de Sharin Foo mais do que nunca atravessam o disco de maneira caprichada, repletos de tonalidades chorosas e sussurrada. Sem dúvidas um dos álbuns mais sentimentais da banda. Basta a bela Summer Moon para comprovar todo o cuidado e o sofrimento destilado dentro desse disco.

Diferente de outros trabalhos da dupla, principalmente se comparado com Lust Lust Lust (2007), quando havia um peso maior nas guitarras, além de certa pendência ao noise pop, o presente registro parece feito de maneira a soar mais calmo. Tudo parece amarrado a evidenciar as camadas e texturas de guitarras durante o desenrolar das faixas. Mesmo que em canções como Ignite a banda dê uma acelerada no ritmo, o cuidado com que Wagner amarra pequenos solos claustrofóbicos, teclados minimalistas e vocais desconfigurados apenas evidenciam o explorar de sons do trabalho.

Mesmo funcionando de maneira mais contemplativa e em alguns momentos de forma quase etérea (como demonstra My Times Up), Raven in the Grave é um trabalho continuo. Do princípio ao fim a dupla segue uma linha de maneira bem fundamentada, esbanjando frescor em meio às composições esvoaçadas e repletas de tonalidades sorumbáticas.  O novo álbum é claramente um projeto que foca muito mais na instrumentação e no sentimento passado por ela do que no uso dos vocais em si. Dos acordes sujos do início do disco à amargura de seu término, o disco é mais uma sucessão de acertos feitos pelo The Reavonettes.

Raven in the Grave (2011)

Nota: 7.9
Para quem gosta de: The Kills, A Place To Bury Strangers e Crystal Stilts
Ouça: War In Heaven

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.