Disco: “Raw Solutions”, Slava

/ Por: Cleber Facchi 09/04/2013

Slava
Electronic/Experimental/Alternative
http://www.softwarelabel.net/

Por: Fernanda Blammer

Slava

Por mais desconcertante e estranha que pareça, a capa de Raw Solutions (2013, Mexican Summer/Software) consegue representar tudo o que o russo naturalizado estadunidense Slava busca alcançar com o primeiro disco solo. São referências instrumentais que caminham por décadas da música eletrônica, revestindo tudo em camadas que vez ou outra se abrem para o ouvinte, como o zíper visualmente representado na imagem que ilustra o registro. Sem se importar com a construção de uma sonoridade própria ou que em alguma medida apresente ineditismo, o produtor faz da repetição de gêneros distintos e apropriações constantes a base para a construção de um trabalho que curiosamente convence.

Partidário dos mesmos conceitos instrumentais que alimentam o trabalho de artistas recentes, Slava se concentra em marcas diversas da década de 1990 para sustentar cada uma das 12 instáveis composições espalhada pelo disco. Ora apoiado em referências muito próximas das que decidiram os rumos de Aphex Twin, ora acompanhando os mesmos realces do Hip-Hop que acrescentaram ao trabalho de Prefuse 73 e vem impulsionando a produção de nomes recentes como Shlohmo, o produtor trata de cada faixa como um imenso quebra cabeças.

Quando se concentra na projeção de referências recentes, Slava vai do Hip-Hop ao Grime, passando pelo minimal techno, sem medo de parecer excessivamente exagerado ou inexato, algo bem representado na construção de How U Get That. Uma das faixas mais extensas do álbum, a canção abre em meio a batidas típicas do Hip-Hop, utilizando de pequenas composições vocais como um incentivo ao mesmo resultado. À medida que a composição se desenvolve, referências à eletrônica britânica se manifestam com maior exposição, sem que o artista abandone o eixo inicial, costurando tudo dentro de uma uniformidade nítida.


[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=EgTekW_Q99Y?rel=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=00LjTxi-qH8?rel=0]

Já quando resolve mergulhar no passado, Slava faz crescer o que há de mais comercial (e nostálgico) no trabalho. Enquanto Heartbroken absorve aspectos convencionais do R&B firmado nos anos 1990, a faixa seguinte, Girls on Dick, revive o machismo e marcas bastante específicas do Rap construído no mesmo período, tudo com certa dose de novidade. Ambas partilham do mesmo aproveitamento de sons orientados pela densidade das batidas, pequenas colagens de vozes, além de uma dose leve de sintetizadores que pintam com complemento ao fundo de cada música.

É justamente ao apostar nessa camada densa de sons e menos no uso de recortes (sonoros ou vocais) que Slava sustenta os pontos autorais e naturalmente mais inventivos da obra. Se por um lado I Know reverte o clima doloroso do R&B de forma abastecer uma das composições mais brandas e acolhedoras do registro, Girl Like Me, apresentada logo em sequência, passeia entre o experimento e construção de um composto quase radiofônico. Ainda que os vocais se manifestem como um mecanismo de aproximação para o público, é na arquitetura musical da obra que Slava expande as principais marcas de sua própria obra.

Sem a preocupação de sustentar Raw Solutions dentro de uma temática específica, Slava traz na variedade um caminho seguro e que estranhamente parece amarrar todas as pontas ao final, mesmo nos percursos mais inexatos do trabalho. Não por acaso o produtor foi acolhido pelo selo Software, de Joel Ford e Daniel Lopatin, figuras que parecem compartilhar das mesmas colagens do artista, substituindo o clima dos anos 1990, pela soma de referências sintetizadas que marcaram a cena musical uma década antes.

 

Slava

Raw Solutions (2013, Mexican Summer/Software)


Nota: 7.2
Para quem gosta de: Ford & Lopatin, Shlohmo e DJ Rashad
Ouça: Girl Like Me e On It
[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/52775153″ params=”” width=” 100%” height=”166″ iframe=”true” /]

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/85028060″ params=”” width=” 100%” height=”166″ iframe=”true” /]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.