Disco: “Realidade Aumentada EP”, The Tape Disaster

/ Por: Cleber Facchi 01/04/2011

The Tape Disaster
Brazilian/Post-Rock/Math-Rock
http://www.myspace.com/thetapedisaster

Por: Cleber Facchi

A grande vantagem dessa descentralização das grandes gravadoras e do crescimento de selos menores (Monstro Discos, Senhor F, Sinewave, entre outros) é a de sermos agraciados com registros como esse Realidade Aumentada EP (2011), trabalho de estreia da banda gaúcha The Tape Disaster, e que provavelmente nunca ganharia forma, ou encontraria inúmeras barreiras se fosse lançado há uma ou duas décadas. Sem soltar uma palavra, o quarteto portoalegrense manda uma sequência de sons calcados nos post-hardcore e que se converteriam em clássicos se lançados no começo dos anos 90.

A exemplo de bandas como Eu Serei a Hiena e Twinpine(s) o grupo formado por Andres Araujo (baixo), Bruno Severo (guitarra), Rubens Formiga (bateria) e Thivá F.S (guitarra) se joga no rock alternativo do final da década de 1990 em busca da profusão de sons que movimentam esse pequeno álbum. A destreza com que a banda orquestra sua instrumentária vem do obvio preparo de seis anos de apresentações entre o estado de origem e o vizinho Santa Catarina, fazendo com que os cinco petardos construídos ao longo do trabalho evidenciem um som de maneira clara e tentadora.

Embora seja todo trabalhado de forma instrumental os registros são tocados de maneira versátil, impedindo que musicas alongadas ou grandes viagens instrumentais possam se manifestar. Realidade Aumentada é um trabalho rápido e rasteiro, suas texturizações urbanas despontam a todo o momento um caráter de pressa e efemeridade, há sempre concisão na maneira com que o quarteto formaliza o disco.

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O looping urgente de Para Onde Apontam Seus Móveis vai promovendo um sentimento e a necessidade de captar tudo de maneira veloz, como se a qualquer momento a faixa fosse extinta e o ouvinte ficasse desorientado. Embora rápida, dizer que a canção indispõe de detalhes seria uma falácia. Há todo o momento os gaúchos vão empilhando seus sons, como se um acorde, um solo ou um pontual espancar de bateria voltasse futuramente ou servisse como uma grande soma de resultados. O quarteto quase toca o rock matemático, embora haja emoção sincera em seus instrumentos.

Mesmo que as faixas sejam organizadas de forma a parecerem certeiras, o grupo permite (mesmo que como plano de fundo) reverberações e camadas mais espessas de som funcionem de maneira a solidificar as composições. Cartas ao Théo proporciona desde uma sonoridade mais límpida e plástica, jogada na parte da frente da canção, enquanto ao fundo deixa que pequenas sobras de distorção (principalmente do baixo de Araujo) pintem as pequenas camadas acústicas que pareçam incompletas.

Sintetizado ao máximo, Realidade Aumentada funciona como um disco “magro”, impedindo que a banda proporcione qualquer tipo de som que possa soar estranho dentro de seu resultado final. A extasia proporcionada nos quinze minutos do singelo registro do The Tape Disaster é indubitavelmente comparada a mesma comoção em ouvir clássicos como Spiderland (1991) ou Today’s Active Lifestyles (1993). Um disco necessário e que se desdobra a cada audição.

Realidade Aumentada EP (2011)

Nota: 7.7
Para quem gosta de: Eu Serei a Hiena, Twinpine(s) e Polara
Ouça: Para Onde Apontam Seus Móveis

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.