Disco: “RED HOT + RIO 2”, Vários

/ Por: Cleber Facchi 19/07/2011

Vários
Brazilian/Indie/Tropicália
http://www.redhot.org/

 

Por: Cleber Facchi

Lançado há mais de 40 anos, Tropicália ou Panis Et Circencis, trabalho símbolo da contracultura brasileira e um dos marcos do movimento Tropicalista ainda hoje ecoa como uma das maiores, se não a maior obra da nossa música. Se por aqui o disco é visto como uma obra de destaque, no exterior o registro é de longe uma das grandes coqueluches musicais, sendo tema de exposições, debates acadêmicos ou mesmo influência para uma série de artistas e compositores. Foi pensando nisso que a ONG Red Hot Organization uniu brasileiros e músicos ligados ao cenário alternativo norte-americano em uma vasta coletânea, um denso agrupado que tenta rever as mesmas temáticas anunciadas pelos tropicalistas há quatro décadas.

Há mais de 20 anos contribuindo para a conscientização na luta contra o vírus HIV, esta não é a primeira vez que o RHO vai ao encontro de músicos para lutar em prol de sua causa. Desde o começo dos anos 90 (quando a instituição foi criada) que a entidade elabora compilações musicais, montadas para a arrecadação de fundos para a instituição. Algumas delas não se limitam a meros agrupados de artistas distintos, mas registros que circulam com destaque em meio ao cenário musical, como o clássico recente Dark Was The Night de 2009, disco que reuniu apenas composições inéditas de gente como Arcade Fire, Grizzly Bear e Spoon e que já arrecadou mais de 1 milhão de dólares.

Seguindo a mesma temática explorada em 1996, quando a instituição lançou um trabalho com um foco maior na bossa nova – denominado Red Hot + Rio e que trazia gente como Marisa Monte, Chico Science & Nação Zumbi, Mad Professor e David Byrne -, em Red Hot + Rio 2 (2011, E1 Entertainment) além do homenagear os sons inaugurados pela tropicália há 40 anos, o registro proporciona uma série de encontros e parcerias musicais que pareciam impossíveis de serem realizadas, mas que geram resultados mais que gratificantes.

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Dividido em duas partes – uma denominada “Red” e outra “Hot” – o álbum concentra em sua primeira metade um toque de música brasileira mais convencional, pouco inventivo, mas que deve acertar em cheio o público gringo. Entre os bons destaques situados nessa primeira etapa do registro estão os novatos do Cults e os integrantes do grupo nova-iorquino Superhuman Happiness, que de maneira graciosa cantam em bom português a divertida Um Canto de Afoxé Para o Bloco do Ilê, original na voz de Caetano Veloso. Destaque também para a suave Nu com a Minha Música, trazendo a acertada trinca Marisa Monte, Devendra Banhart e Rodrigo Amarante.

Honrado seu título, a segunda metade do trabalho entrega as composições mais quentes do trabalho, logo de cara mandando um Zach Condon (Beirut) se desafiando a cantar em português a doce Leãozinho, apenas um aperitivo para o variado jogo de canções que viria na sequência. Da excentricidade do Of Montreal com esquisitice dos Mutantes surge uma versão renovada do clássico Bat Macumba, enquanto Emicida e a Orquestra Contemporânea de Olinda fazem girar A Roda, isso sem contar com o cruzamento entre Marina Gasolina e Secousse na divertidíssima Freak le Boom Boom.

Mesmo que conte com algumas composições desnecessárias ou excessivamente artificiais, como a versão feita por Los Van Van e Carlinhos Brown para Soy Loco Por Ti, América, em sua totalidade o registro mantém firme sua proposta em homenagear a Tropicália, entregando aos ouvintes momentos de pura experimentação e comicidade. Talvez o excesso de composições (são 33 músicas no total) compliquem a audição do trabalho, algo que já estava bem delimitado na versão anterior do projeto, que concentrava 21 canções. Com produção de Paul Heck, Béco Dranoff e John Carlin, Red Hot + Rio 2 se apresenta como uma estratégia criativa e bem direcionada em prol de uma causa muitas vezes difícil de ser abordada.

 

Red Hot + Rio 2 (2011, E1 Entertainment)

 

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Os Mutantes, Caetanto Veloso e Gilberto Gil
Ouça: Um Canto de Afoxé Para o Bloco do Ilê, Bat Macumba ou Leãozinho

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.