Disco: “Regifted Light”, Baby Dee

/ Por: Cleber Facchi 26/03/2011

Baby Dee
Chamber Pop/Freak Folk/Singer-Songwriter
http://www.myspace.com/theonlybabydee

Por: Cleber Facchi

Embora Joanna Newsom brilhe fácil como o grande nome das harpistas contemporâneas, feito justificável por conta de clássicos absolutos como The Milk-Eyed Mender (2004) e Ys (2006), na contramão disso tudo e se afundando categoricamente em um terreno banhado pelo excêntrico, a pioneira Baby Dee parece a verdade grande harpista da contemporaneidade. Dona de uma série de lançamentos que primam pelo esquisito e o belo, a musicista volta com Regifted Light (2011) seu mais recente e belíssimo petardo.

Dee é o verdadeiro oposto de Newsom. Enquanto a segunda prima por sua voz doce, acordes delicados e bucólicos de seu instrumento, além de faixas arrastadas, mas atrativas, a primeira surge como um lado mais bruto disso tudo. Os vocais são graves (Baby Dee é na verdade um transexual), sua harpa soa de forma estrondosa, forte e quase visceral, dando forma a um som nada puro e ingênuo, mas muito mais maduro, rápido e em alguns momentos até ameaçador.

Regifted Light é sem dúvidas o trabalho mais conciso e funcional de toda a carreira da artista. Utilizando-se em poucos momentos de seus vocais e abrindo espaço para o melhor desenvolvimento dos instrumentos, o novo disco de BaBy Dee prende por seus detalhamentos. A melancolia com que cada um dos sons é exposto nos afeta e emociona profundamente. Torna-se visível o quanto cada mínima nota destacada é trabalhada com esforço sincero, como se cada uma das canções do disco fossem as últimas que o ouvinte apreciaria em sua existência.

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Quando canta, Dee nos transporta diretamente para a idade média, como se cantasse histórias de amor e sofrimento entre nobres e camponeses, com sua voz sempre desafiando monstros, movimenta tropas inteiras para a batalha, a todo o momento impondo-se de maneira gloriosa. Por serem raros é necessário aproveitar cada segundo de seus graves vocais, como entrega em Brother Slug And Sister Snail, momento totalmente operístico e emocional do disco.

Ao contrario de Newsom (não há como adentrar neste terreno sem não falar dela) a jovem senhora (que já conta com 58 anos) faz de seu trabalho um espaço para que cargas ilimitadas de instrumentos façam sua morada. Nada da musicista sozinha, acompanhada apenas de sua harpa, pianos, instrumentos de sopro e violoncelos acompanham o registro desde seu princípio até o término. Em alguns momentos até uma percussão surge para dar sustentação aos sons, como ocorre em Cowboys With Cowboy Hat Hair, na abertura do trabalho.

Assim como seu visual, o som de Baby Dee chega de maneira espalhafatosa chamando a atenção de todos. A maneira como conduz os pouco mais de 30 minutos de Regifted Light mostra que a veterana atua de maneira firme e bem direcionada, dando vida a um trabalho que mantém os ouvidos atentos a todo o tempo, a fim de evitar que qualquer mínimo detalhe (e são vários) acabem escapando. Um álbum em que melodia e sentimento se encontram de maneira única.

Regifted Light (2011)

Nota: 8.4
Para quem gosta de: Joanna Newsom, Amanda Palmer e Antony and the Johnsons
Ouça: Brother Slug And Sister Snail

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.