Disco: “Regions of Light and Sound of God”, Jim James

/ Por: Cleber Facchi 07/02/2013

Jim James
Indie/Singer-Songwriter/Folk
http://jimjames.com/

Jim James

Jim James parece ter entrado em conflito quando deu formas ao confuso, porém necessário, Circuital, em 2011. Outrora apaixonado pelas melodias orgânicas e ambientações bucólicas que deram vida aos trabalhos iniciais do My Morning Jacket, o cantor e compositor (sempre acompanhado dos parceiros de banda) resolveu dar um passo além há dois anos, fundindo as mesmas camadas de sons campestres do passado com um acabamento semi-futurístico. O Country Alternativo se misturou aos agregados de distorção, o campo virou cidade, e a poesia anteriormente branda deu vida a um orquestrado contemporâneo, uma base funcional para o que o compositor aprimora no lançamento do primeiro álbum sol, Regions of Light and Sound of God (2013, ATO).

Produzido, composto e gravado em sua quase totalidade com base na atuação solitária do músico de Louisville, Kentucky, o álbum é de maneira bastante natural um reflexo da alma e da mente de seu idealizador. Da forma como as guitarras são enquadradas aos versos, tudo se desmancha em uma atmosfera de perfeita solidão. Dentro desse propósito, não seria de se estranhar que cada segundo ao longo do retrato de nove composições emane uma relação direta com vida do músico, quase um personagem que se transforma em matéria-prima para aquele que é o registro em estúdio mais bem sucedido desde a sequência It Still Moves (2003) e Z (2005) com o MMJ.

É curioso perceber o quanto Regions Of Light and Sound of God se assume como um trabalho que flutua durante todo o tempo entre o passado e o presente do artista. Enquanto a capa futurística – com James caminhando rumo à luz em um cenário minimalista delineado pelas cores -, parece ser um tipo de metáfora para a matéria urbana de sua obra recente, cada realce musical abordado pelo disco é uma visita ao passado. Dos vocais que remetem ao folk da década de 1970, passando pelo clima ponderado que se acomoda nos primeiros lançamentos do músico com o MMJ, tudo se organiza em uma verdadeira maquinação de contrastes. O velho e o novo, o futurístico e arcaico, a simplicidade de um violão e a excentricidade vasta de um sintetizador.

Talvez irregular para um artista iniciante, a proposta se concentra de maneira bem arranjada nas mãos do veterano. É justamente ao brincar com essa variedade de experimentos que James encontra o instrumento de ordem do álbum, composição que dissolve guitarras em uma proposta típica do ambiental acústico, ao mesmo tempo em que o folk tradicional serve de subsídio para as distorções orgânico-eletrônicas espalhadas pelo trabalho. Nada que Justin Vernon já não tenha alcançado com o último e bem sucedido álbum do Bon Iver, contudo um registro que está longe de parecer uma cópia ou um reflexo não inventivo de James. Assim como Vernon, o compositor usa da emoção para catapultar músicas talvez simplistas para um cenário de arranjos, versos e sensações naturalmente grandiosas, um reforço necessário para a boa forma da obra.

Diferente de tantos outros registros que até brincam com as mesmas percepções musicais do artista, Regions Of Light and Sound of God é um trabalho que encanta justamente pelos instantes de nostalgia dissolvidos pelo álbum. Cada faixa firma uma curiosa conexão entre o passado e o presente, direcionamento que faz de A New Life uma canção ao mesmo tempo próxima de John Lennon e Jeff Buckley, como de algum nome recente do cancioneiro de raiz  A dor e as pequenas interpretações cotidianas de James são universais, fator que converte o álbum em um trabalho naturalmente clássico e construído em cima de referências quase desgastadas. Tudo isso enquanto uma película de novidade é sobreposta em cada uma das nove composições, reforçando a relação atemporal que o músico anuncia logo na capa do disco.

Mesmo o acabamento adulto e as incorporações instrumentais consistentes não afastam a sensação de que o disco poderia ser melhor. Se por um lado algumas das canções arremessam o ouvinte para um turbilhão de sensações diversas, outras se acomodam em uma formatação deveras convencional. Em diversos instantes do álbum parece que James chega até determinado ponto e resolve simplesmente estacionar, impedindo de maneira quase intencional que o disco alcance seu máximo e o constante fluxo entre o passado e o presente seja prematuramente interrompido.

 

Regions of Light and Sound of God (2013, ATO)


Nota: 7.9
Para quem gosta de: My Morning Jacket e Bon Iver
Ouça: Know Til Now e A New Life

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.