Disco: “Replica”, Oneohtrix Point Never

/ Por: Cleber Facchi 19/10/2011

Oneohtrix Point Never
Experimental/Ambient/Electronic
http://www.pointnever.com/

Por: Cleber Facchi

Daniel Lopatin

Daniel Lopatin é uma dessas figuras raras dentro da música experimental. Em praticamente todos os trabalhos em que acabou envolvido o resultado foi sempre satisfatório, quiçá genial. Foi assim quando lançou suas primeiras composições ao lado do parceiro Joel Ford – juntos eles formam dois projetos, o Games e o Ford & Lopatin –, ou mesmo anterior a isso, através do Oneohtrix Point Never, trabalho que assume individualmente e que acaba de apresentar seu mais novo e fenomenal álbum. Denominado Replica (2011, Software), o disco revela mais uma sequência de experimentos climáticos e doses hipnóticas de música ambiente.

Contrário ao que grande parte dos proclamadores desse tipo de gênero desenvolvem em seus sempre mornos trabalhos – com exceção, claro, de alguns nomes como Emeralds e Tim Hecker -, Lopatin faz com que cada um de seus registros transborde beleza e precisão de forma incomparável. Sempre vasto e trafegando por distintas referências musicais, cada trabalho proclamado pelo músico surge como um convite para mergulharmos em um ambiente estranho e capaz de se inverter por completo em cada novo segundo.

Tudo é inóspito, esquizofrênico, sufocante e estranhamente encantador dentro de qualquer registro projetado pelo norte-americano, que hoje vive na região do Brooklyn em Nova York. O misto de sensações alavancadas ao longo de suas canções – se é que podemos considerar tais composições simples músicas – só é comparável ao variado jogo de elementos que se escondem dentro de cada uma das faixas que delimitam sua obra. Batidas excêntricas, vozes que se esbarram, sintetizadores que se fragmentam, nada pode ser observado de forma convencional dentro de suas criações.

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Oposto de uma sequência de artistas, que em cada novo lançamento se afundam em fórmulas já consagradas, evitando a todo custo promover um trabalho sempre inovador, Lopatin parece não se importar em abandonar seus velhos acertos em busca de outros. Desde que passou a obter merecido destaque em 2009 – através do álbum Rifts -, que o produtor tem se especializado em reconfigurar suas lógicas, fazendo com que cada novo lançamento revele uma série de sons distintos, carregados de frescor e, consequentemente, mais uma boa dose de experimentos diversificados.

Contrário ao nome do álbum, com Replica Lopatin se consagra com mais uma boa dose de sons peculiares e entrelaces musicais inovadores, onde rótulos como “drone”, “ambient” ou “experimental” parecem meras nomenclaturas perto das sensações e das incríveis experiências ressaltadas através do disco. Estranho observar que mesmo preso em um mundo de conflitantes encontros sonoros, o disco se desenvolve fácil, sendo capaz de atender as possíveis exigências de um público que nunca se deparou com esse tipo de som, afinal, cada faixa presente no disco desenvolve um tipo de musicalidade universal, um tipo de diálogo com o ouvinte que não carece de palavras.

Da melancolia da faixa título aos beats instáveis de Sleep Dealer, passando pelo jogo de recortes em Child Soldier, cada música dentro do disco se abre em um vasto leque de possibilidades, como se fossem pequenos mundos instrumentais, mínimos frames da mente inconstante de seu criador. Daniel Lopatin parece viver em um mundo apenas dele e Replica, como o título já aponta, é apenas uma cópia disso, uma espécie de ponto limite de onde podemos nos aproximar.

Replica (2011, Software)

Nota: 8.4
Para quem gosta de: Emeralds, Tim Hecker e Balam Acaab
Ouça: Child Solider e Nassau

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.