Disco: “Return to Annihilation”, Locrian

/ Por: Cleber Facchi 29/07/2013

Locrian
Experimental/Drone/Noise
http://locrian.bandcamp.com/

 

Por: Cleber Facchi

Locrian

O lançamento de Sunbather (2013), da dupla Deafheaven, serviu para consolidar de forma expressiva a relação entre o lado atmosférico do Metal e as experimentações climáticas que ocupam com vigor a cena norte-americana. Ainda que a relação entre diferentes estilos esteja longe de parecer algo recente – vide o catálogo de obras sustentadas pelo pós-Metal e outros subgêneros como o Drone -, o segundo álbum do duo californiano veio para manifestar uma soma atípica de referências incorporadas ao gênero, matéria que o trio Locrian, de Chicago, incorpora com pleno sentimento de transformação e invento talvez maior.

Com uma coleção imensa de composições – boa parte registrada em CDRs, fitas cassete e outras gravações custeadas pela própria banda -, o trio composto por André Foisy, Terence Hannum e Steven Hess alcança com o novo álbum, Return to Annihilation (2013, Relapse) um natural senso de compreensão sobre a própria obra. Ainda que isso já fosse evidente na composição final de The Crystal World (2010), cada passo dado pelo recente álbum evidencia a escolha acertada do grupo em não apenas brincar com os ruídos, mas de delinear de forma temática a composição do disco.

Brincando com a psicodelia em preto e branco, o grupo estabelece a criação de imensas paisagens sonoras pela obra, resultado de uma carga de ruídos ordenados em um estágio de plena relação com os instrumentos. Dividido entre canções marcadas pelo detalhe dos acordes (Exiting the Hall of Vapor and Light) e faixas que incorporam um estágio claro de desconstrução (Panorama of Mirrors), o álbum praticamente arrasta o ouvinte em meio a uma corredeira de distorções instáveis, sons que mesmo intencionalmente desalinhados, nunca fogem às regras previamente impostas pelo trio.

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Meio termo instrumental entre o disco de 2010 e as experimentações acertadas no álbum The Clearing (2011), Return to Annihilation é assumidamente uma obra entregue aos ruídos. Banda herdeira de toda as imposições sonoras entregues pelo Earth desde o começo dos anos 1990, o trio excursiona pela obra em um sentido atento de jogar com a sobreposição dos sons. Tendo nas guitarras o principal instrumento, a banda cria dentro do composto acertado de acordes em Loop um desenho não convencional para registros do gênero, tocando por diversas vezes a essência climática do Krautrock e demais experimentos conquistados na década de 1970.

Ainda que haja uma forte relação com os projetos anteriores da banda, ao longo do disco é visível um sentimento de mudança, quase como uma imposição automática por parte da banda. Marca expressiva disse vem do maior aproveitamento dos vocais, espécie de ponte para a estrutura criativa que a banda desenvolve nos instrumentais épicos, principalmente na parte final do disco, com Panorama of Mirrors. Ainda assim é a construção climática atribuída ao disco que orienta de forma genuína os sons, resultado impresso na música de abertura, Eternal Return, até o eixo crescente da faixa de encerramento, Obsolete Elegies.

Espécie de imenso resumo de tudo o que a banda vem construindo desde 2005, quando formada, o álbum sustenta na multiplicidade de tramas e variantes instrumentais um percurso nítido de novidade. Mesmo que boa parte das composições apresentadas se revelem como um resgate coeso de tudo o que o trio vinha desenvolvendo, há durante toda a imposição do álbum um teor de descoberta. Dessa forma, é possível entender Return to Annihilation como um ponto de divisão na carreira da banda, uma conexão com os primeiros inventos e um prelúdio do que deve orientar a tríade pelos próximos álbuns.

Locrian

Return to Annihilation (2013, Relapse)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: KTL, Earth e Prurient
Ouça: Obsolete Elegies e Panorama of Mirrors

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.