Disco: “Revelationes”, Tape

/ Por: Cleber Facchi 11/03/2011

Tape
Swedish/Post-Rock/Experimental
http://www.myspace.com/tapesthlm

Por: Cleber Facchi

Para quem está sempre acostumado a apreciar pérolas da música pop sueca, como Shout Out Louds, Club 8, Lykke Li, Love Is All e demais grupos focando em uma linguagem bem semelhante ver esse trio do Tape e suas cuidadosas composições experimentais é sem dúvidas um belo achado. Com sete faixas milimetricamente trabalhadas, esse novo álbum do trio originário de Estocolmo é indubitavelmente um belo apanhado de texturas detalhistas e viagens instrumentais contemplativas. Um álbum para ser apreciado com carinho e cuidado.

Fruto de dois anos de gravações no estúdio próprio do grupo, Revelationes (2011) é o quinto álbum da carreira desse grupo, que teve início no começo dos anos 2000. Formado pelos irmãos Andreas e Berthling Johan em pareceria com o amigo Tomas Hallonsten, a banda teve Opera seu primeiro registro de estúdio lançado em 2002 e de lá pra cá veio nos presenteando com uma série de ótimos discos, todos ausentes de vocábulos, mas que se expressam fluentemente através de suas melodias.

Com o quinto disco fica visível o quanto o trio conseguiu dosar as inclusões de música eletrônica dentro do grande tecido instrumental composto pelo uso de guitarras, teclados, uma bateria minimalista e diversos elementos que apenas engrandecem tal obra. Diferente dos álbuns anteriores é perceptível o quanto o grupo se firma na criação de um som mais orgânico, deixando para as interferências sintéticas apenas o fomento de ruídos e alterações minuciosas que apenas expandem o bom funcionamento das composições.

Assim como a capa do álbum, Revelationes expressa uma espécie de universo mítico, futurístico e épico, elementos que movimentam todas as faixas desse disco, seja através de composições mais alongadas e que se apegam a formas mais etéreas ou através de músicas menos extensas, mas que concentram todo o arsenal instrumental do trio.

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Fazendo parte desse segundo grupo, Hotels e seus pouco menos de três minutos fazem girar um som marcado pelo uso sofisticado de teclados e texturizações sonoras que primam por uma melodia séria, mas ainda assim envolvente.

Ao contrário de outros discos instrumentais já lançados neste ano, como Hardcore Will Never Die, But You Will (2011) dos escoceses do Mogwai, o som proposto pelo Tape foca em uma sonoridade bem menos “pop” e mais contemplativa. Os acordes soam de maneira baixa, costurando verdadeiras camadas de som massivo, indispostas de grandes exaltações musicais ou grandes picos de agressividade instrumental. E é dentro de faixas mais espalhadas como The Wild Palms que a banda vai desenvolvendo o ritmo do disco, pacato, tranquilo, mas profundamente harmonioso.

É perceptível o quanto o grupo comanda com precisão suas composições através de faixas como Gone Gone. Para além de míseros loopings instrumentais, a bela criação ganha temperos jazzísticos por conta de suas formas mais alongadas e inconstâncias sonoras. Versátil, a faixa transita por um terreno de constantes mutações em sua estrutura, permitindo que a banda consiga tanto dissolver seu lado mais orgânico, como as discretas inclusões eletrônicas.

As amarras criadas pelo Tape em Dust and Light, faixa que abre esse novo álbum vai aos poucos impossibilitando que o ouvinte consiga se distanciar da atmosfera séria e ainda assim fantasiosa criada pelo grupo. Os pouco mais de trinta minutos de duração do disco (um tempo curto se comparado com outros trabalhos) conseguem nos embarcar dentro de um terreno mutável, mas que parece existir somente dentro dessas sete faixas. Uma verdadeira viagem instrumental, sem que para isso você precise desligar-se de seus fones de ouvido.

Revelationes (2011)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: Godspeed You! Black Emperor, Mogwai e Slint
Ouça: The Wild Palms

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.