Disco: “Reverie”, Postiljonen

/ Por: Cleber Facchi 24/02/2016

Postiljonen
Dream Pop/Indie Pop/Synthpop
http://postiljonenmusic.com/

 

Você já teve a sensação de ser acolhido por um disco? Três anos após o lançamento do primeiro álbum de estúdio, Skyer (2013), Mia Bøe e os parceiros Daniel Sjörs e Joel Nyström Holm fazem do segundo registro de inéditas do Postiljonen uma obra que amplia o universo de sonhos e pequenas confissões sentimentais exploradas pela banda. Arranjos, vozes e versos que não apenas criam uma espécie de refúgio criativo para a banda, como parecem cercar e até mesmo confortar o ouvinte.

Como o próprio título da obra indica – Reverie, do francês “sonho”, “fantasia” ou “devaneio” -, cada fragmento instrumental e lírico entregue pelo grupo ao longo da obra transporta o ouvinte para um ambiente de fórmulas atmosféricas e temas “flutuantes”. O mesmo dream-pop-eletrônico testado pelo trio no registro apresentado há três anos, porém, encorpado por nuances angelicais, um catálogo de novas referências, ritmos e encaixes criativos.

Inaugurado pelo som climático de The Open Road, composição que passeia pelo mesmo cenário enevoado do segundo registro em estúdio de Bon Iver, Reverie se projeta como uma obra que delicadamente sussurra versos intimistas e possibilidades. Um coleção de ideias que passa pelo mesmo som incorporado pelo M83 em Saturdays = Youth (2008), guitarras e vozes que flertam com a obra do Cocteau Twins e, principalmente, retalhos criativos vindos de diferentes obras da cena sueca, como nº 2 (2009) do casal jj e A New Chance (2007) da dupla The Tough Alliance.

Difícil não lembrar do clássico No Way Down (2008), derradeira obra do duo Air France quando sintetizadores, metais e batidas estimulam a produção de um som essencialmente catártico, dançante, em How Can Our Love Be Blind. Segunda faixa do disco, a canção de arranjos crescentes e inspirações vindas dos anos 1980 e 1990 parece ser a chave para entender o material produzido pelo trio no interior da presente obra. Uma extensão delicada do mesmo material projetado por representantes distintos da cena Balearic Beat nas últimas três décadas.

Como um complemento aos arranjos e samples que invadem a obra, em Reverie, os versos florescem de forma sempre econômica, precisa, ocupando as pequenas lacunas do disco. São declarações de amor, como em You’re Ace (“Eu quero perder tempo com você, baby / É você que eu estou esperando”), versos sobre separação em Go (“Sua casa está em nossos corações”) e até confissões entristecidas, caso de Wait (“Há um incêndio dentro do meu coração”) e L.I.E. (“Eu estou cansada de você”).

Musicalmente amplo, Reverie não apenas preserva a essência apresentada pelo Postiljonen como apresenta ao público um som completamente novo em relação ao material entregue no antecessor Skyer. Versos e vozes que se dissolvem em uma nuvem de sons atmosféricos, delicados, como uma visão ainda mais encantadora do mesmo cenário onírico e apresentado pelo grupo há três anos.

 

Reverie (2016, Hybris)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Air France, M83 e jj
Ouça: How Can Our Love Be Blind, Are You Thinking of Me e Go

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.