Disco: “Run The Jewels 2”, Run The Jewels

/ Por: Cleber Facchi 04/11/2014

Run The Jewels
Hip-Hop/Rap/Alternative
http://www.runthejewels.net/

Versos agressivos e politizados, produção concisa; diálogos com o Hip-Hop das décadas de 1980 e 1990, bases encorpadas por temas recentes, carregados de frescor. Quando a estreia do Run the Jewels foi apresentada ao público, em meados de 2013, tanto Killer Mike quanto EL-P pareciam inclinados a completar as pequenas lacunas estéticas, líricas e conceituais do parceiro. Uma extensão autoral do processo inaugurado na dobradinha R.A.P. Music. e Cancer For Cure, fragmentos individuais de cada rapper/produtor em 2012 e, ao mesmo tempo, a fagulha criativa do recente projeto colaborativo.

Em Run the Jewels 2 (2014, Mass Appeal), ainda que a essência do trabalho seja a mesma do disco anterior, a estrutura que movimenta as canções é encarada de forma distinta. Antes personagens autônomos em um processo de interação, Killer Mike e EL-P passam a atuar como uma mente única, convertendo cada ato do registro em um exercício coeso e intenso. Um misto de resgate e expansão do universo temático inaugurado há poucos meses.

Violência, misoginia (“She want that dick in her mouth all day“), drogas, autoafirmação e insanidade (“I’m putting pistols in places at random places“). RTJ2 é uma colisão imensa de versos rápidos e sujos, tropeços em pessoas (Phillip Seymour Hoffman) e personagens (Scarface) moldados em uma atmosfera estranhamente melódica e perturbadora. Dentro dos limites de EL-P e Killer Milke, uma adaptação do mesmo plano caótico de Kanye West em Yeezus (2013), ou dos conceitos urbanos do Death Grips na dobradinha The Money Store e NO LOVE DEEP WEB, de 2012.

Naturalmente preciso, o álbum se sustenta em cima de 11 peças rápidas e musicalmente íntimas. Recortes cotidianos que visitam liricamente as periferias de Mike, o alinhamento irônico/cru do parceiro, além, claro de uma maior imposição comercial – traço que preenche versos e também arranjos do disco. Delineado de forma límpida, aberto ao grande público, RTJ2 é uma sequência de temas tão  agressivos quanto melódicos, preferências capaz de distorcer a atmosfera de “mixtape” instalada no primeiro álbum, garantindo ao ouvinte um cenário amplo, a ser explorado com atenção.

Orquestrado com firmeza, RTJ2 pode até ser uma obra assinada em parceria, entretanto, evidente é a maior imposição de EL-P ao longo das faixas. Do uso apurado de sintetizadores – marca em Cancer For Cure -, passando pelo resgate específico de samples – como Pac-Man Death no interior de Early – e até referências aos últimos registros solo, cada peça do álbum se movimenta dentro de um território particular. Mesmo convidados como Travis Barker, Boots e Diane Coffee parecem explorados de acordo com as exigências do produtor, vide a utilização de Zack de la Rocha como um “instrumento” na enérgica Close Your Eyes (And Count to Fuck).

Na trilha crescente de faixas como 36″ Chain e DDFH, do primeiro disco, o presente álbum funciona como uma corrente de canções quase complementares. De Jeopardy ao mergulho final em Angel Duster, cada ruído do álbum serve de estímulo para a faixa seguinte, tornando o eixo final – composto por All Due Respect e Crown – tão significativo quanto o bloco de apresentação – encabeçado por Oh My Darling Don’t Cry e Blockbuster Night, Pt. 1. Não importa onde você cair: RTJ2 sobrevive como uma coleção instável de rimas, temas e bases essencialmente impactantes e assertivas; um resumo ampliado (e perturbado) de tudo a dupla vem desenvolvendo nas últimas duas décadas – em carreira solo ou de forma partilhada.

 

Run the Jewels 2 (2014, Mass Appeal)

Nota: 8.8
Para quem gosta de: Danny Brown, Death Grips e Kanye West
Ouça: Oh My Darling Don’t Cry,Early e Close Your Eyes (And Count to Fuck)

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.