Disco: “Run The Jewels”, Run The Jewels

/ Por: Cleber Facchi 03/07/2013

Run The Jewels
Hip-Hop/Rap/Alternative
http://www.foolsgoldrecs.com/runthejewels/

 

Por: Cleber Facchi

Run The Jewels

Desde os primeiros registros, o Rap norte-americano sobrevive de parcerias entre indivíduos internos ou mesmo externos ao gênero. Um efeito essencial para o crescimento de clássicos antigos (como a estreia do Wu-Tang Clan e os primeiros discos do Afrika Bambaataa) e recentes do Hip-Hop (basta observar o último trabalho de Kendrick Lamar), resultado que semanalmente borbulha novidade pela cena. Há ainda quem encontre no propósito colaborativo uma engrenagem natural, exercício que a dupla EL-P e Killer Mike resolveu de maneira inventiva ao apresentar os quase irmãos Cancer For Cure e R.A.P. Music no último ano.

Enquanto o primeiro vinha como um retorno à boa forma do nova-iorquino, o segundo trouxe o esforço do produtor em preparar o terreno instrumental para as rimas de Mike. O resultado está na construção de duas obras que mesmo distintas em conceitos, partilham de uma formação bastante similar. É como se os texto políticos e as críticas sociais do rapper encontrassem um asilo de plena insanidade na anarquia dissolvida por EL-P, que ainda convidou o parceiro para dividir as rimas na intensa Tougher Colder Killer. Sem descanso e embarcando na mesma verve sombria dos dois projetos, a dupla se reencontra para grampear o melhor dos dois mundos em Run The Jewels (2013, Fool’s Gold), projeto que é praticamente uma extensão do efeito inciado há menos de um ano.

Tão veloz e criativo quanto a artilharia de sons embalados em Cancer For Cure, tratado com a mesma crueza dos vocais que se espalhavam na construção de R.A.P. Music, o álbum encontra em um repertório curto de dez faixas o espaço para um invento que parece próprio apenas da dupla. Não se trata de uma continuação, mas um cenário de plena transformação e novidade para quem já estava acostumado ao trabalho de 2012. Sim, é possível traçar uma ponte sonora com os registros – efeito claro da presença de EL-P como responsável pelas bases da obra -, entretanto, tão logo o ouvinte aporta no registro, a dupla se concentra em desarticular qualquer equilíbrio ou previsão, resultando em uma obra que preza pela novidade.

Run The Jewels

Musicalmente centrado em algum lugar esquecido da década de 1990, o disco traz na metralhadora de batidas e rimas firmes o prelúdio para uma obra que cresce a cada nova composição. Base para o que é aprimorado no decorrer do álbum, 36″ Chain incorpora logo na abertura do disco o esforço de EL-P em criar uma atmosfera sombria, climatização que se sustenta de forma assertiva em sintetizadores e batidas quase robóticas. Lembrando uma versão menos anfetaminada do Death Grips pós-The Money Store (2012), o registro segue em meio os versos irônicos de A Christmas Fucking Miracle e Banana Clipper, esta última parceria com Big Boi e faixa que se permite adornar de uma nova verve instrumental, sempre marcada pelo reforço catártico.

A partir de DDFH a dupla mostra que o esforço em desenvolver um trabalho aberto ao grande público é constante. Como se não bastassem as rimas de apelo comercial, musicalmente EL-P expande o universo criado em carreira solo, fazendo do presente álbum uma natural melhoria do que foi proposto há alguns meses. Faixas como Get It e No Come Down alimentam o álbum com uma somatória de elementos que tendem ao épico, se esquivando de possíveis samples para que harmonias sintetizadas e repletas de ruídos ocupem todas as direções da obra. Exemplo claro de como os sons parecem moldados de forma a atender as necessidades da dupla está na faixa título, canção que mais parece uma troca de experiências entre o duo e uma possível transformação dos próprios inventos clamados na abertura do álbum.

Na contramão do que parece guiar os inventos lisérgicos de Kendrick Lamar, Schoolboy Q e principalmente A$ap Rocky, Killer Mike e El-P mantem na composição límpida e frenética da obra um capítulo à parte no que transborda pela produção estadunidense atual. São pouco mais de 30 minutos de duração que forçam o ouvinte a se manter atento até o ecoar da última faixa, não possibilitando qualquer chance de respiro, apenas impulso.

 

Run

Run The Jewels (2013, Fool’s Gold)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Killer Mike, Big Boi e EL-P
Ouça: DDFH, A Christmas Fucking Miracle e Get It

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.