Disco: “São Sons”, Música de Ruiz

/ Por: Cleber Facchi 06/04/2011

Música de Ruiz
Brazilian/Indie/Alternative
http://www.myspace.com/musicaderuiz

Por: Cleber Facchi

Há um velho e conhecido ditado que diz que “a fruta não cai longe do pé”, por mais clichê que tal expressão seja é a mais coerente para definir o disco São Sons (2011). O projeto denominado Música de Ruiz é encabeçado por Estrela Ruiz Leminski e Téo Ruiz, sendo a primeira, filha do poeta paranaense Paulo Leminski. Entretanto, quem espera um trabalho que fique o tempo todo à sombra do pai (falecido em junho de 1989) irá se surpreender com a trama de palavras e maneira com que a dupla manifesta seus sons.

Também escritora, Estrela lançou em 2006 o livro Contra-Indústria, retratando aspectos da música independente, e é justamente falando sobre música que o casal abre o disco com a divertida Quierera. A canção – uma espécie de baião moderno que se encontra com o tango – brinca com as palavras, fazendo uma crítica suave sobre a compra de discos, divulgação de músicas via novelas e sobre a baixa qualidade dos sons comerciais. A letra se encaixa sem sobras dentro da bela melodia, lançando uma espécie de trava-língua musicado.

Na sequência, a dupla curitibana segue prendendo o ouvinte dentro do jogo de vocábulos e sons, construindo uma trama quase matemática na forma com que os dois elementos acabam se cruzando. A influência, tanto do pai, como da mãe Alice Ruiz é inegável dentro dos versos de Leminski. As rimas vão edificando no decorrer do registro uma enorme arapuca de palavras e versos que invadem os ouvidos e amarram o ouvinte, seja por sua concisão ou pela sensibilidade repassada.

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Entretanto é só quando há a mescla coesa entre as rimas e os sons que a dupla de fato atinge seu pico criativo. Em Chapéu de Sobra, as palavras preenchem os pequenos espaços deixados pela música, nesse caso, um sambinha, que cresce pela inclusão de uma percussão regionalista e um magistral arranjo de sopro. Em determinados momentos os vocais de Estrela inegavelmente se assemelham aos de Marisa Monte, repassando (talvez pela recordação) certo ar de maturidade.

Mesmo que o duo já deixe dito na abertura do trabalho, que não vem para proporcionar um som repetitivo e carente de conteúdo, faixas como Mais um Dia entregam versos e um arranjo fácil, daqueles invasivos e que grudam facilmente nos ouvidos. Os vocais suavizados de Téo Ruiz casam com perfeição com a parte instrumental da canção, despontando certo romantismo e parcos momentos de melancolia. O mesmo se repete em outras canções, como em Reinvento, mais um belo cruzamento de voz e melodia, dessa vez puxada pelos vocais de Leminski.

A maneira com que o casal gesta o trabalho e assemelha (e muito) a outro disco lançado em 2011, o belo Dentro do Tronco Oco. Porém, enquanto o projeto elaborado por Bruno Fleming e Paula Lombardi trata da música e dos versos dentro de uma espécie de fábula moderna, a dupla curitibana desponta um lado muito mais poético, uma fina sequência de poemas musicados, que brincam e se dissolvem dentro da mente daqueles que o ouvem.

 

São Sons (2011)

 

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Bruno Fleming & Paula Lombardi, Lemoskine e Arnaldo Antunes
Ouça: Quirera

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.