Disco: “Se Apaixone pela Loucura do Seu Amor”, Felipe Cordeiro

/ Por: Cleber Facchi 05/12/2013

Felipe Cordeiro
Brazilian/Alternative/Carimbó
http://www.felipecordeiro.net/

Por: Cleber Facchi
Foto: Julia Rodrigues

Felipe Cordeiro

Kitsch Pop Cult (2012) teve um papel importante para a consolidação da nova cena paraense. Segundo registro em estúdio de Felipe Cordeiro, o trabalho apresentado no último não custou a ultrapassar as barreiras territoriais e “descer” até o eixo sudeste, arrastando com ele uma série de obras próximas. De Gaby Amarantos ao produtor Jaloo, de Aíla à novata Luê, cada disco vinda da quente Belém e suas imediações replica traços específicos daquilo que o guitarrista trouxe para o projeto. Essência que encontra no catálogo melódico do recente Se Apaixone pela Loucura do Seu Amor (2013, YB), novo disco de Cordeiro, uma completa dissociação do cenário que acabou de construir.

As tramas coloridas de guitarras e o ritmo tropical dos arranjos ainda servem como o principal sustento para a obra do músico, a diferença está na forma como o pop parece ocupar um espaço ainda mais específico dentro desse universo. Partindo em busca do grande público e se esquivando do “Kitsch” e do “Cult” que intitulavam o disco passado, o cantor encontra no uso de versos melódicos e bases instrumentais acolhedoras um catálogo abrangente de hits. São faixas que se distanciam do bom humor e da ironia fina do registro passado para brincar com a simplicidade, abraçando de vez os sentimentos.

Essencialmente romântico, o álbum vai do título exagerado aos versos em um jogo de referências pontuadas de forma expressiva pela saudade. Basta um passeio rápido por músicas como Louco Desejo, Saudade de Você e Trelelê para perceber a atmosfera que rege e abastece todo disco. Flutuando em um ambiente dividido entre o passado e o presente, Cordeiro visita antigas histórias de (des)amor (Não Dá), brinca com personagens (Ela É Tarja Preta) ou mesmo assume toda a necessidade em buscar por um novo amor (Marcianita). A estratégia faz do álbum uma obra naturalmente íntima – tanto para ele, quanto para o público.

Ainda que a verve romântica sirva como o principal combustível para o abastecimento da obra, Felipe Cordeiro está longe de apresentar ao público um disco monotemático. Enquanto faixas aos moldes de Ela É Tarja Preta brincam de forma provocativa com o gênero – “Quando ela surge de lambuja dentro do salão/ Nem o doutor percebe tanta contra-indicação” -, outras como Saudade de Você reforçam todo o sentimentalismo do projeto – “Eu só queria dizer que hoje eu senti uma puta saudade/ Saudade de você”. A medida garante ao álbum um fluxo dinâmico, como se todo um compilado de obras clássicas do romantismo/brega nacional fossem agregadas em um mesmo bloco conceitual.

Outro elemento fundamental para o crescimento do disco está no bem conduzido jogo dos arranjos. Aos comandos de Kassin e Carlos Eduardo Miranda, Cordeiro encontra um catálogo limitado, mas não menos convincente de possibilidades. É como se todos os possíveis desvios instalados no disco anterior fossem limados, garantindo uma obra de posicionamento linear, o que contribui para o teor homogêneo do trabalho. Claro que a arquitetura “tímida” do álbum de forma alguma priva o ouvinte (e o músico) de instantes mais exaltados. É o caso da instrumental Lambada Alucinante, um natural complemento para o que a também frenética Fim de Festa trouxe no disco anterior. A música de Cordeiro tem sabor de festa e ele, melhor do que qualquer um, sabe bem disso.

Tratado em um enquadramento complementar ao que Kitsch Pop Cult trouxe até pouco tempo, o presente álbum de Felipe Cordeiro é uma obra que observa o cenário ao redor e se reinventa. Como um estrangeiro em outro país – ou estado -, o guitarrista paraense absorve traços específicos da cultura local, sem necessariamente se desprender da base prévia que tanto define sua obra. O resultado abre espaço para o nascimento de um registro ainda mais amplo. Um projeto que não está lá, nem aqui, mas dentro de um universo totalmente particular.

 

Felipe Cordeiro

Se Apaixone pela Loucura do Seu Amor (2013, YB)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Aila, Do Amor e Siba
Ouça: Saudade de Você, Louco Desejo e Trelelê

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.