Disco: “Section.80”, Kendrick Lamar

/ Por: Cleber Facchi 10/12/2011

Kendrick Lamar
Hip-Hop/Rap/West Coast Rap
http://www.myspace.com/kdottde

 

Por: Cleber Facchi

 

Observado de maneira atenta, Section.80 (2011, Independente) mais novo trabalho do californiano Kendrick Lamar em nada proporciona inovação ou mínimo ineditismo dentro do cenário rap contemporâneo. Construído inteiramente em cima de velhas fórmulas que há décadas circundam o estilo – como a variante de sons exclusivamente comerciais além de algumas músicas que se relacionam intimamente com a soul music -, o trabalho de 16 faixas é acima de qualquer constatação um trabalho de limites. Contudo, estranho explicar como um trabalho sem grandes (ou mínimas) inovações ao hip-hop consegue se desenvolver como um dos melhores e mais consistentes registros do ano.

Não há nada que você ouça ao longo dos quase 60 minutos do álbum que não possa ser encontrado com facilidade no trabalho de outros entusiastas do hip-hop, sejam eles artistas de épocas remotas ou recentes, indivíduos do baixo ou alto escalão musical. Longe do caráter “alternativo” ou “underground” que pudesse ser encontrado em suas antigas mixtapes, com o recente álbum o rapper abraça de vez a produção de um som essencialmente radiofônico, mantendo firme a conexão com os antigos trabalhos, porém explorando uma sonoridade e versos prontos para tocar em alguma rádio do interior ou no DVD player de alguma rede de móveis.

A grande diferença de Kendrick para tantos outros rappers que diariamente surgem e desaparecem no cenário musical está na busca por um resultado sonoro e lírico não óbvio ou descartável. Mesmo “fáceis”, músicas como Tammy’s Song (Her Evils) e Fuck Your Ethnicity parecem se desvencilhar dos erros instrumentais e (principalmente) dos versos falhos que tantos norte-americanos promovem. Cada faixa explorada pelo rapper parece se posicionar em um lugar de destaque, desenvolvendo a mesma medida convencional-conceitual que indivíduos como Jay-Z ou Kanye West (pré-My Beautiful Dark Twisted Fantasy) conseguem promover.

Detentor de relativo destaque em 2010, quando apresentou o hit HiiiPower – agora última canção do presente disco – Lamar não quer ser lembrado por uma única música, feito que ele esclarece de maneira espetacular a cada nova canção presente no disco. Da abertura com Fuck Your Ethnicity, passando pela surpreendente Ronald Reagan Era (faixa que facilmente poderia estar em Watch The Throne) até a última música inédita do disco, a regionalista Ab-Souls Outro, cada canção parece pensada de maneira particular, o que acaba garantindo o grande acerto e o maior erro do trabalho.

Por se tratar de um disco que observa cada música de forma ímpar e isolada, torna-se impossível estabelecer um diálogo entre as canções presentes no álbum, assim, tal qual a capa “desorganizada” do registro, o californiano acaba apontando para inúmeras direções e perdendo o foco do trabalho em várias delas. Esse pequeno erro provavelmente deve ser solucionado com a chegada de Good Kid in a Mad City, primeiro álbum oficial do rapper e disco previsto para o primeiro semestre de 2012.

Enquanto o aguardado álbum não chega, Lamar apresenta composições mais do que satisfatórias dentro do recente álbum, sendo capaz de agradar tanto saudosistas do rap da década de 1990 (Kush & Corinthians), interessados nas emanações do R&B (Blow My High (Members Only)) e até composições intencionalmente radiofônicas e voltadas ao grande público (A.D.H.D). Mais do que uma apostas como alguns sites andam apontando por aí – desde 2005 incluído no cenário musical, talvez “aposta” não seja o melhor título para o californiano -, Kendrick Lamar é a mais pura e gratificante certeza.

Section.80 (2011, Independente)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Big K.R.I.T., Jay-Z e J. Cole
Ouça: Ronald Reagan Era e A.D.H.D.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.