Disco: “Seeds”, TV On The Radio

/ Por: Cleber Facchi 24/11/2014

TV On The Radio
Indie Rock/Alternative
http://www.tvontheradioband.com/

Por: Cleber Facchi

Passado o lançamento de Dear Science, seguido do hiato breve que silenciou a banda em 2009, não é difícil imaginar que grande questionamento perturbava os integrantes do TV On The Radio: “para onde vamos agora?”. Em uma sequência crescente de obras cada vez mais complexas e ainda acessíveis ao público, o grupo nova-iorquino parecia ter alcançado o último estágio do exercício iniciado no debut Desperate Youth, Blood Thirsty Babes (2002), explorando toda e qualquer lacuna criativa dentro do próprio trabalho.

Mesmo sem uma direção definida e hoje sobrevivendo da constante reciclagem dos próprios conceitos, em Seeds (2014, Harvest) a banda mostra que está longe de parecer acomodada. A julgar pelas batidas rápidas e ritmo frenético imposto em grande parte das canções, é possível afirmar que o grupo corre desperto, sem tempo para descanso. O destino ainda parece incerto, mas o material apresentado ao longo do percurso agrada com naturalidade.

Em uma manobra sutil, o quarteto resume no próprio título da obra – em português, “sementes” – o explícito desejo de renovação. Semeando novas referências e preparando o terreno para os futuros lançamentos, cada música apresentado no decorrer do disco se transforma em um nítido ato de experimento. Não por acaso, Seeds é o disco em que a banda mais se afasta do som consolidado em Return to Cookie Mountain (2006) e estendido até Nine Types of Light (2011), último trabalho antes da morte de Gerard Smith, baixista do grupo.

Com experimental Quartz instalada na abertura do disco, uma estranha sensação de conforto invade a mente do ouvinte. Mais uma vez somos convidados a explorar o ambiente particular do TV On The Radio. Mesmo que tal percepção seja mantida no decorrer do registro, ao atravessar os arranjos sorumbáticos de Careful You – um híbrido de Will Do e You, do álbum anterior – e bater nas guitarras de Could You, a direção do coletivo muda bruscamente.

Longe de David Bowie, Prince e outras referências declaradas nos primeiros trabalhos, lentamente o disco se afasta do som empoeirado da década de 1970 – um dos principais pilares que sustentam a essência da banda. Observando a crueza e completa distorção nos arranjos de Winter e Could You, não é complicado desvendar o novo ambiente referencial do quarteto. Transportado para o final dos anos 1980, o grupo devora grande parte do material lançado por Superchunk, Sugar e demais representantes da cena alternativa, encontrando o estímulo necessário para o estímulo de renovação.

Mais do que uma remodelagem de conceitos, a nítida imposição de Dave Sitek em Seeds reforça uma provável alteração na própria estrutura do TV On The Radio. Outrora gigantes, Tunde Adebimpe e Kyp Malone são engolidos aos poucos pelas bases e beats eletrônicos do baterista, também responsável pela produção do álbum. Enquanto a dupla de vocalistas busca por velhas referências, Sitek recicla o presente, adaptando o trabalho de Elliphant, Yeah Yeah Yeahs e outros colaboradores recentes. Direções talvez opostos, porém, essenciais para o movimento de Seeds.

 

Seeds (2014, Harvest)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Yeah Yeah Yeahs, Yeasayer e Rain Machine
Ouça: Love Stained, Happy Idiot e Quartz

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.