Disco: “Sepalcure”, Sepalcure

/ Por: Cleber Facchi 25/11/2011

Sepalcure
Electronic/Dubstep/Garage
http://www.sepalcure.com/

Por: Cleber Facchi

 

Poucos foram os indivíduos na última década capazes de imprimir uma marca tão forte no mundo da música eletrônica quanto William Bevan. Protegido sob o nome de Burial, o produtor britânico deu forma a dois registros de suma importância não apenas para o cenário musical inglês – que naquele momento vivia o apogeu do UK Garage -, mas para todos os diferentes territórios da música. Os overdubs massivos, vocais picotados e beats assíncronos exaltados por Bevan parecem cada vez mais presentes no cenário atual, algo que uma vazão enorme de projetos como Mount Kimbie, Jamie XX , Zomby e tantos tem ressaltado de forma primorosa ao longo dos últimos anos.

Ultrapassando os limites físicos que até então pareciam ter difundido magistralmente o trabalho do produtor apenas em solo britânico, Bevan e suas peculiaridades sonoras parecem ter finalmente aportado em território norte-americano, algo que a dupla nova-iorquina Sepalcure demonstra sem parcimônias em seu primeiro álbum. Delicado e claramente inspirado pelos ensinamentos do clássico Untrue, o homônimo debut de Travis Stewart e Praveen Sharma – ou como preferem ser conhecidos, Machinedrum e Braille – esbanja as mesmas sensações até então emanadas apenas nas terras da Rainha, evitando um resultado copioso e abrindo uma soma de novas possibilidades.

Mesmo marcado pelas semelhantes experiências de programação que caracterizam trabalhos do gênero – como a sobreposição de bases, o ritmo sincopado e os samples fragmentados -, a grande diferença e o elemento que parece caracterizar a estreia do Sepalcure está na dureza do som propagado. Longe da lisergia viciante e dos apelos ao Dub propagados pelo Mount Kimbie ou distante das experiências futurísticas de Joy Orbison, o duo garante sustento ao trabalho promovendo um composto musical que mesmo delicado e frágil em alguns pontos reforça uma funcionalidade dura, concisa e quase matemática em determinados aspectos.

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Destrinchado em pequenas partes ao longo dos últimos meses, o homônimo álbum parece seguir um tipo de racionalidade variada, mantendo uma linha central que corta e define todo o registro, mas possibilitando que cada faixa aponte para um tipo diferente de direção. Dessa forma é possível observar que cada música lançada ao longo do trabalho parte de uma natureza bastante específica, garantindo assim complemento a todas as demandas do disco. Enquanto Yuh Nuh See possibilita que o duo reforce as interações com a música britânica, See Me Feel Me os puxa para um terreno mais etéreo, algo totalmente reformulado em meio aos reforços eletrônicos e secos de Pencil Pimp.

Ambiental e ao mesmo tempo capaz de percorrer uma sonoridade incrivelmente dançante e quase comercial – algo excepcionalmente explorado em músicas como Breezin e a calorosa Hold On -, Sepalcure (o disco) parece só alcançar esse feito mediante o uso apurado dos “vocais”. Por mais que o uso de tal recurso acabe por derivar um tipo de som particularmente atmosférico e experimental, a voz dentro do álbum acaba se revelando como um mecanismo de complemento ao trabalho, sendo parte fundamental para músicas como Carrot Man (faixa que praticamente se constrói em cima dos vocais) e Breezin, ou como um detalhe para The One e o single Pencil Pimp.

Rico em detalhes e fruto de um ano de produções feitas com visível esmero, o resultado não poderia ser outro se não um excepcional conjunto de acertos e músicas memoráveis. Por mais que a herança deixada por William Bevan esteja por todos os lados do trabalho, o duo não utiliza disso como um elemento de base único, estabelecendo uma originalidade musical que não apenas os afasta de serem comparados a meras cópias, como faz deles detentores de um ritmo e um som próprio.

Sepalcure (2011, Hotflush)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Burial, Mount Kimbie e Joy Orbison
Ouça: Pencil Pimp, See Me Feel Me e Breezin

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.