Disco: “Sept. 5th”, dvsn

/ Por: Cleber Facchi 05/04/2016

Artista: dvsn
Gênero: R&B, soul e Hip-Hop
Acesse: https://soundcloud.com/dvsndvsn

 

A sonoridade antes “restrita” da dupla canadense dvsn – lê-se “division” -, lentamente assume um acabamento cada vez mais acessível, delicado e íntimo de grande parcela do público. Do som minimalista apresentado em The Line, ainda em 2015, passando por faixas melancólicas como Too Deep e Hallucinations, um mundo de possibilidades e detalhes se abre de forma a provocar o ouvinte, seduzido a cada nova batida ou sussurro romântico que escapa das composições.

Primeiro álbum de estúdio da dupla formada pelo cantor Daniel Daley e o produtor Paul Jefferies, Sept. 5th (2016), obra que conta com lançamento pelo selo Ovo Sound – casa de Drake e PARTYNEXTDOOR – mostra a perfeita sincronia do duo formado há pouco menos de um ano. Da abertura provocante nos versos de With Me, passando pelos sintetizadores de Try / Effortless e toda a tristeza que conduz a faixa-título do álbum, versos e confissões românticas dialogam com o que há de mais intimista dentro de qualquer relacionamento.

Transe comigo agora / Hoje à noite eu tenho tempo / Então venha, transe comigo / Apenas você … Transe comigo, garota”. Em uma explosão de erotismo e versos marcados pela confissão, With Me, faixa de abertura do álbum, indica a completa honestidade que corrompe as rimas ao longo de toda a obra. Um catálogo de versos essencialmente sombrios, ora marcados pela lírica explícita (“foda comigo, garota / foda comigo agora”), ora moldados de forma subjetiva (“Eu não quero puxar para fora / Acho que estamos / No fundo / Não quero tirar”), como indica Too Deep.

Em faixas como Hallucinations, porções de melancolia dissolvidas de forma envolvente. “Eu estou alucinando / Estou perdendo o sono todas as noites / Continuo tentando cobrir meus olhos”, canta Daley em um dos instantes de maior tristeza da obra. Um olhar atormentado para um passado ainda recente, como se o eu lírico da canção flutuasse em um mundo de ilusões, perdido entre o fim de um relacionamento e suas memórias. Versos que se completam de forma dolorosa, estímulo para o nascimento de faixas como In + Out e The Line.

Produtor de faixas como Hold On, We’re Going Home e Hotline Bling, de Drake, Jefferies, mais conhecido pelo título de Nineteen85, transporta para dentro de Sept. 5th o mesmo R&B de outros conterrâneos da cena canadense. Um catálogo talvez restrito de batidas e bases que se amarram sutilmente, como se todo o registro fosse planejado em cada detalhe. Talvez a única canção que se distancie desse mesmo universo seja Angela, um soul-pop típico da década de 1970, como uma rápida curva instrumental, isolada e preciosa.

Ainda que esbarre na mesma estrutura de obras como Kaleidoscope Dream (2012), de Miguel, Love King (2010), do rapper The-Dream e toda a curta discografia produzida por Abel Tesfaye pré-Beauty Behind The Madness (2015), durante toda a construção do álbum, Daley e Jefferies estabelecem um conjunto de regras e temas próprios, íntimos apenas do dvsn. Versos marcados pelo erotismo, confissões sujas e toda a base instrumental que aos poucos fortalece a identidade da dupla.

 

Sept. 5th (2016, OVO Sound / Warner Bros.)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Miguel, The-Dream e The Weeknd
Ouça: With Me, Hallucinations e Angela

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.