Disco: “Serenade of A Sailor”, Momo

/ Por: Cleber Facchi 27/08/2011

Momo
Brazilian/Folk/Singer-Songwriter
http://www.myspace.com/momoproject

 

Por: Cleber Facchi

Marcelo Frota, ou Momo como é melhor conhecido é um destes casos raros da recente safra de novos compositores nacionais. Assim como Fabio Góes, Pélico e outros representantes da música alternativa brasileira, o artista carioca só conseguiu agregar certa dose de reconhecimento tempos após o lançamento de seus discos – A Estética do Rabisco de 2006 e Buscador de 2008. Como resultado uma série de publicações via grande rede correram para sanar o atraso, não poupando elogios ao trabalho do músico, principalmente em se tratando de seu segundo disco, um trabalho repleto de acertos, capaz de flertar tanto com o folk norte-americano como com a música brasileira da década de 1970.

Para seu terceiro e mais recente álbum, Momo retorna fazendo uso da mesma composição atmosférica que delineava seu trabalho anterior, reproduzindo um som suave, calcado em violões abrandados e guitarras expostas apenas quando realmente necessário. Quem, entretanto, espera por uma exata continuação do que o músico desenvolveu no obscuro Buscador terá de esperar ou se acostumar com os novos (e belos) rumos escolhidos pelo cantor, que parte em busca de um retrato instrumental doloroso, porém distinto do que fora anteriormente propagado por ele.

Enquanto Buscador – disco lançado em 2008 e trabalho que de fato apresentou Momo ao “grande público” – se delimitava como um trabalho denso, sério, amargurado e intocável, quase como uma rocha, Serenade of A Sailor (2011, Pimba) seu terceiro registro chega de forma completamente oposta. Volátil, doce e essencialmente suave em sua formatação, o disco deixa transparecer muito de seu conteúdo logo na canção de abertura, Tenho Que Seguir, uma composição adornada de xilofones oníricos, e uma condução delicada, com o carioca derramando versos esperançosos como “quando se tem amor nasce a esperança” e “felicidade é caminhar sem ter medo de acreditar”.

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Embora navegando em um mar de esperanças, sonhos e sensações acalentadoras, Frota em nenhum momento deixa de expor sua figura solitária, como uma espécie de indivíduo entregue à deriva, ou como ele mesmo anuncia na faixa Pescador, “às vezes eu me sinto assim, tão só, pescador em alto mar”. É justamente através destes momentos de maior dor e melancolia que o disco passa a se aproximar do anterior registro do músico, porém, enquanto no álbum de 2008 canções deste porte se manifestavam grandiosas, e praticamente explodiam no refrão – Preciso Ser Pedra e Irmãos transmitem bem isso –, dentro do novo álbum todas as faixas centralizam seus esforços no menos, com Momo esbanjando toques intimistas e de pura delicadeza.

Soando como uma espécie de trilha sonora para o clássico O Velho e o Mar de Ernest Hemingway, Serenade of A Sailor chega tomado de referências “marítimas”, algo bem representado tanto no texto das composições, como na instrumentação pacata do registro, que ressoa como pequenas ondas em um mar calmo acompanhado de um clima nublado e triste. Diferente dos dois álbuns anteriores, em seu atual registro Momo se permite brincar com os versos em inglês, o que de forma alguma atrapalha a boa condução do disco, que transmite uma espécie de união entre cada uma das faixas presentes no álbum, como se a suposta “Serenata de Um Marinheiro” fosse na verdade um grande poema fragmentado em 11 pequenos atos.

Tomado por uma espécie de limite próprio, o disco parece exatamente saber até onde chegar, o que evita qualquer tipo de surpresa ou grande mudança em seu desenvolvimento, mas que acaba garantindo a produção de um disco conciso, fechado e eficiente. Embora desenvolva uma composição atmosférica similar ao que é apresentada em seus registros anteriores, Serenade of A Sailor parece dono de uma linguagem própria, um tipo de trabalho novo dentro da não mais tão curta carreira do cantor e compositor carioca.

 

Serenade of A Sailor (2011, Pimba)

 

Nota: 8.2
Para quem gosta de: Marcelo Camelo, Wado e Fabio Góes
Ouça: Tenho Que Seguir e Pescador

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.