Disco: “Setembro”, Junio Barreto

/ Por: Cleber Facchi 27/10/2011

Junio Barreto
Brazilian/Alternative/Samba
http://www.juniobarreto.com/

 

Por: Cleber Facchi

Quando surgiu com seu primeiro álbum solo no longínquo ano de 2004, Junio Barreto se apresentava ao pequeno público que o havia notado como um legítimo sopro de novidade e renovação. Se naquele momento a velha MPB surgia de forma desgastada e apresentando uma série de contribuintes pouco inventivos para nossa música, o pernambucano e seu homônimo debut rompiam de forma primorosa com essa lógica, proporcionando um registro carregado por uma identidade própria, letras que se esquivavam do básico, além de uma unidade instrumental peculiar.

Passado o lançamento de seu primeiro registro, que acabou contando com o elogio da crítica e o suporte do outros representantes da nossa música, Barreto entrou em uma espécie de silêncio. Uma quietude musical que após sete anos acaba finalmente rompida, com o músico mais uma vez nos impressionando com a vastidão de seus versos, sua voz e sua detalhada melodia. Longe do aspecto demasiado específico de sua estréia, o músico converte seu recente projeto em um registro ampliado em todos seus aspectos.

Carregado pelo nome de Setembro (2011, Independente), o segundo álbum de Junio Barreto faz crescer dez aprimoradas composições, faixas conduzidas pela fluência do samba, doses sintomáticas de rock e os velhos traços da música regionalista nordestina. Organizado em pouco mais de 30 minutos, o disco transpira os peculiares versos do músico, que costura elementos do cotidiano, pequenas exaltações ao amor e um variado jogo de referências que delimitam de maneira vasta a obra do compositor.

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Instrumentalmente mais leve que seu antecessor, Setembro se movimenta de forma calma, quase preguiçosa em alguns momentos, tornando a audição do trabalho uma tarefa nada complexa e essencialmente proveitosa. Longe da variedade aplicada em sua estréia – em parte gerada pela produção de Alfredo Bello, o DJ Tudo –, o álbum encontra nos direcionamentos de Pupillo (Nação Zumbi) a reprodução de um som conciso, com todas as composições amarradas dentro de uma mesma funcionalidade. A sobriedade gerada acaba delimitando o disco dentro de uma frequência própria e puramente convidativa.

Sempre evitando os excessos, Barreto permite que brotem pequenos clássicos instrumentais ao longo do trabalho, faixas como Jardim Imperial, Fineza (com seu ar de Tom Jobim) e Noturna, que por conta de sua estrutura musical e seus versos acabam revelando uma faceta mais urbana do músico. Enquanto em seu primeiro álbum o pernambucano delimitava um som orgânico e até mesmo bucólico em alguns momentos, aqui o fluxo é outro, com uma tonalidade acinzentada se misturando ao delicado jogo de cores que movimentam o disco.

Se a espera para a chegada desse disco foi longa, logo em seus minutos iniciais fica mais do que visível o quanto toda essa demora valeu à pena. Junio Barreto segue trilhando um caminho próprio, nada básico ou que se obriga a atender certas demandas em prol de um som comercial. Mais uma vez os versos do compositor surgem de forma a se derreter nos ouvidos do espectador, com o músico, sem grandes esforços, atendendo todas nossas possíveis exigências.

 

Setembro (2011, Independente)

 

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Bonsucesso Samba Club, Lucas Santtana e Eddie
Ouça: Setembro e Jardim Imperial

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.