Disco: “Seth Bogart”, Seth Bogart

/ Por: Cleber Facchi 07/03/2016

Seth Bogart
Garage Rock/Synthpop/Alternative
http://www.sethbogart.com/

 

Com o Hunx and His Punx, Seth Bogart deu vida a um dos projetos mais divertidos e originais da cena punk norte-americana. Obras marcadas pela lírica bem-humorada, caso de Too Young to Be in Love (2011), ou mesmo registros essencialmente anárquicos, vide o acelerado Street Punk (2013) e Hairdresser Blues (2012), este último, lançado apenas pelo título de Hunx. Com o primeiro álbum em carreira solo, uma nova paleta de cores, sons e referências incorporadas pelo artista.

Se até o último disco, Bogart passeava pelo mesmo Garage/Punk Rock do final dos anos 1970, flertando com a obra de Sex Pistols e todo o time de veteranos do período, com o presente álbum, o cantor e compositor californiano mergulha de cabeça no nascimento da New Wave. Do explícito interesse pelo synthpop em Lubed e Supermarket Supermodel, passando pelo uso da bateria eletrônica em Forgotten Fantasy, faixa após faixa, o músico norte-americano estabelece um curioso resgate de clássicos dos anos 1980.

A cada curva do disco, uma nova ponte criativa, passagem para diferentes trabalhos, épocas e cenas isoladas. Como não lembrar de Germfree Adolescents (1978), clássico do grupo britânico X-Ray Spex, quando a voz da convidada Kathleen Hanna (Bikini Kill, Le Tigre) cria um som completamente insano em Eating Makeup. Com guitarras à la The Cure, Plastic! é outra que brinca com o passado, crescendo em meio a vozes e melodias que poderiam ser encontradas em qualquer disco lançado há três décadas.

Dotado de um raro frescor, caricato, porém, jamais desgastado, Bogart despeja uma seleção de faixas que não apenas se amarram no interior da obra, como mantém a atenção do ouvinte em alta, até o último segundo. Como escapar das guitarras de Hollywood Square ou das batidas dançantes de Flurt e da cômica Nina Hagen-Daaz? Uma constante sensação de que tudo aquilo que foi produzido por Julian Casablancas nos últimos cinco anos – em Angles (2011) ou Tyranny (2014) – se orienta de maneira acessível, essencialmente pop.

Mesmo fragmentado em diferentes gêneros, difícil interpretar o presente registro como uma obra esquizofrênica, confusa. Assim como em Too Young to Be in Love, Bogart apresenta ao público uma espécie de coletânea de clássicos, como um resumo temático ancorado em uma época ou cena específica. Um olhar atento para toda a sequência de obras lançadas entre 1978 e 1985. Nada que ultrapasse um cenário pré-estabelecido.

A mesma composição “plural” do disco se reflete no time de colaboradores que acompanham Bogart ao longo da obra. Kathleen Hanna em Eating Makeup, Tavi Gavinson na romântica Barely 21, Chela na dobradinha Supermarket Supermodel e Flurt, Jeremiah Nadya em Lubed e Clementine Chevy na dançante Nina Hagen-Daaz. Vozes responsáveis por ampliar ainda mais o vasto conceito do trabalho e completar as pequenas lacunas deixadas por Bogart.

 

Seth Bogart (2016, Burger)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Hunx and His Punx, Black Lips e Le Tigre
Ouça: Plastic!, Eating Makeup e Barley 21

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.