Disco: “Seu Lugar”, Arthur Matos

/ Por: Cleber Facchi 27/01/2012

Arthur Matos
Brazilian/Folk/Indie
http://www.arthurmatos.com.br/

Por: Cleber Facchi

 

Mais do que uma simplória nomenclatura para um monumental conjunto de acontecimentos encaminhados pelo nascer do Sol, Alvorada é também o título designado ao gracioso registro de estreia da quase desconhecida Nantes, banda sergipana que em 2010 converteu suaves acordes em pequenos raios de uma luz própria. Luzes, muitas delas emanadas diretamente da figura singular de Arthur Matos, vocalista e principal compositor do grupo de Aracaju, que ao mergulhar no primeiro trabalho em carreira solo opta por dar nova direção a esses pequenos focos luminosos.

Se ao lado dos parceiros de banda, Matos e o folk psicodélico que o cerca parece esboçar um retrato de cores múltiplas e doces sensações matinais, com o lançamento de Seu Lugar (2012, RockInPress) o apontamento é outro. Nada da tonalidade branda e matutina que construía faixas como Talvez você possa cantar e Bem Vinda Chuva, ao exercitar suas experiências em trabalho solo, o músico aponta para o entardecer, transformando pequenas doses de melancolia na sonorização natural ao apagar das luzes e cair da noite.

Por mais que as bases sejam as mesmas que dão sentido ao adorável Alvorada, cada acorde, verso ou mínimo ecoar da voz de Matos aponta para uma direção oposta, revelando experiências muito mais herméticas, chorosas, porém sempre sóbrias e honestas. Dividido entre a música folk de princípios da década de 1960, cargas leves da psicodelia setentista e até algumas aproximações com o Fleet Foxes do primeiro disco (algo perceptível principalmente na voz do músico), o sergipano edifica um suave catálogo de 11 composições, músicas que ora pendem para o passado, ora para a necessidade de mudança.

Como o próprio título da obra já aponta, Seu Lugar é um trabalho de buscas – sejam elas físicas, sentimentais ou até espirituais, mas todas constantes. “Andando pelos cantos não sabes /Se vai em busca de outro amor / Verdades que já foram marcadas / Causaram incertezas e a dor”, canta Matos em Voltando Ao Seu Lar, uma das faixas que bem exprimem a dicotomia do registro, que olha para o passado de forma melancólica ao mesmo tempo em que observa o futuro de maneira necessária, porém temerosa, transformando o “personagem” das canções em uma figura que anseia por sua morada, não importa ela qual for.

Da capa ao som que reside no miolo do trabalho, tudo se orienta de forma leve, soturna e brandamente dolorosa, com a voz de Matos (outrora uma expoente de criações dotadas de múltiplas cores) se convertendo em um composto sonoro denso e amargo. Mesmo nos momentos em que o instrumental cresce para além do aspecto reduzido do trabalho – algo facilmente revelado na faixa Março -, a maneira como a voz do cantor se anuncia acaba por contrair o disco, tornando-o um trabalho que claramente ressalta o valor da dor, mas nunca utiliza disso para a promoção de algo desgastante ou que se perca em exageros líricos.

Acompanhado de Fabrício Rossini (bateria, teclado e contra-baixo), Rafael Ramos (teclados) e Melciades Filho (lap steel), Matos desenvolve um trabalho tecnicamente simples, porém obviamente encantador, algo que Nem Todo o Universo, Minha Voz (Seu Lugar) e tantas mais composições ao longo do álbum vão anunciando com parcimônia, porém vivacidade. Se no decorrer do disco o músico repassa a constante sensação de que ainda esteja em busca de um lugar próprio, talvez ao final do trabalho esse suposto recinto seja finalmente encontrado, talvez não por Matos, mas certamente pelo ouvinte.

Seu Lugar (2012, RockInPress)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Nantes, Bonifrate e Lestics
Ouça: Março, Minha Voz (Seu Lugar) e Voltando ao Seu Lar

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.