Disco: “Shrines”, Purity Ring

/ Por: Cleber Facchi 27/06/2012

Purity Ring
Experimental/Electronic/Female Vocalists
http://thepurityring.tumblr.com/

Por: Cleber Facchi

Até pouco tempo atrás se alguém perguntasse sobre os principais nomes da música canadense, talvez fosse possível ressaltar alguns artistas de peso como Neil Young, Joni Mitchell, Leonard Cohen ou até Celine Dion. Uma variedade de cantores e compositores que de certa forma conseguiram atingir o grande público, mas que trilhavam um caminho solitário, cada qual fazendo uso de uma sonoridade bastante específica. Mesmo a expansão da música independente e de grupos como Arcade Fire, Broken Social Scene ou Wolf Parade não foi suficiente para estabelecer uma cena em si. Tudo era muito vasto, distinto e incompatível.

De forma brusca e cada vez mais intensa, um médio agregado de grupos, artistas e compositores têm estabelecido o que parece ser uma nova e talvez primeira identidade ao recente panorama canadense. Encabeçados pela esquizofrenia pop de Claire Boucher (Grimes) e o intrigante álbum Visions, nomes como d’Eon, Blood Diamonds, Majical Cloudz e Doldrums vêm contribuindo para a composição de um cenário rico, volátil e que mantém o tom comercial e o experimental em um mesmo plano. Espécie de engrenagem imaginária, a necessidade de provar, experimentar e estabelecer novas possibilidades é o que alimenta esse grupo de artistas.

Mais novos membros desse seleto (e cada vez mais influente) aglomerado a lançar um registro completo é a dupla de Montreal Purity Ring. Comandada pelos vocais de Megan James e a instrumentação versátil de Corin Roddick, o casal surgiu no último ano, quando os experimentos da faixa Belispeak trataram de apresentar de forma magistral todas as estratégias programadas pela dupla. Se até o presente momento pouco parecia revelado pelos norte-americanos, com o lançamento de Shrines (2012, 4AD) o duo mostra de fato a que veio, não apenas revivendo os pequenos acertos testados em singles anteriores, mas evidenciando toda uma variedade de sons e novos caminhos instrumentais.

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Trazendo nas predisposições eletrônicas a principal marca do álbum, a cada nova canção anunciada o casal se deixa conduzir por uma infinidade de novas experiências e variações sonoras. No estranho cardápio montado pelo duo há desde o emprego de batidas típicas do hip-hop experimental que ecoa em solo norte-americano – principalmente o que é proposto nos inventos do produtor Clams Casino -, até variações esquizofrênicas do synthpop que tanto definiu a década de 1980. Todavia, longe de manter o mesmo resultado convencional, reaproveitando fórmulas já batidas e visivelmente desgastadas, tanto James quanto Roddick se entregam por inteiro à descoberta.

Enquanto ela transforma a voz em um complemento extra ao registro, o parceiro assume com precisão o encaixe das batidas, o cardápio de sintetizadores e todos os demais efeitos ou minimalismos que apenas engrandecem a nada convencional frente de canções apresentadas. O mais interessante nisso tudo é perceber que mesmo imersos em um mundo de colagens instrumentais complexas e renovações sonoras que ultrapassam o óbvio a dupla consegue alcançar um resultado acessível e cativante aos ouvintes, algo que os vocais pegajosos de Fineshrine, a levada quase dançante de Amenamy ou mesmo o “pancadão gótico” Belispeak justificam de maneira cativante. Existe experimento e necessidade de inovar, mas existe acima de tudo vontade de agradar o ouvinte, opção muitas vezes esquecida por boa parte de artistas do gênero.

Mesmo que em alguns momentos o registro compartilhe de forma exagerada algumas mesmas referências compreendidas tanto na recente obra de Grimes, como de outros expositores da mesma cena canadense, a habilidade da dupla em se autoperverter impede que o projeto alcance qualquer possível similaridade. Pode até ser que o disco acabe indiretamente esbarrando em alguns pilares como os proclamados pelo Animal Collective ou outros amantes da psicodelia, do experimento e da eletrônica não convencional, entretanto, o casal consegue sempre encontrar uma brecha ou um fundo de inovação em cada nova faixa e é nisso que reside o grande acerto de Shrines.

Shrines (2012, 4AD)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: Grimes, Charli XCX e Clams Casino
Ouça: Fineshrine, Obedear e Belispeak

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.