Disco: “Silent Hour/Golden Mile”, Daniel Rossen

/ Por: Cleber Facchi 10/07/2012

Daniel Rossen
Indie/Singer-Songwriter/Folk
https://www.facebook.com/rossendaniel

Por: Cleber Facchi

Provavelmente um dos maiores erros em relação ao lançamento do primeiro álbum solo de Chris Taylor (como CANT), está relacionado ao enorme afastamento do músico em relação aos anteriores lançamentos em parceria com sua antiga banda, o Grizzly Bear. São raros os momentos ao longo do experimental Dreams Come True (2011) em que a banda que o fez conhecido se torna minimamente visível. Tudo ecoa diferença e afastamento, é quase possível acreditar que Taylor pretende afastar o passado musical dele investindo em uma nova proposta instrumental, resultado que bem define as melodias quebradas, ruídos descontrolados e letras pouco convincentes que preenchem cada espaço do raso e ainda hoje estranho disco.

Curioso notar que para o parceiro de banda Daniel Rossen, um dos quatro integrantes do Grizzly Bear e também metade do Department of Eagles, o distanciamento de trabalhos já existentes sempre pareceu um erro. Logo, não seria de se estranhar que ao apresentar o primeiro registro em carreira solo, Silent Hour/Golden Mile EP (2012, Warp) o músico mantenha exatamente as mesmas influências e temáticas que tanto encaminharam o quarteto nova-iorquino para o lançamento do surpreendente Veckatimest em 2009, registro que ainda hoje funciona como um dos projetos musicais que tanto definiram e influenciara a música alternativa da década passada.

Da abertura simplista e confessional que preenche Up On High ao encerramento grandioso que expande os limites da volumosa Golden Mile, cada etapa do registro de cinco faixas se relaciona intimamente com o que fora testado há quase três anos dentro do memorável último disco do Grizzly Bear. Cada pedaço do álbum parece fluir como uma variante acústica do que faixas como Cheerleader ou os versos suaves de Fine For Now trouxeram quando lançados. Tudo flui dentro de um perfeito estado de sutileza, com Rossen não apenas repetindo os mesmos acertos de outrora, mas trazendo para o pequeno álbum uma verve de novas influências e exaltações que apenas ampliam os limites de sua obra.

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Provavelmente o que mais distancia Rossen dos projetos anteriores (principalmente em relação aos experimentos constantes do Department Of Eagles) se relaciona com a facilidade do músico em brincar com as formas sonoras de maneira acessível e jamais experimental. Nada de melodias quebradas, versos distribuídos de forma instável ou quaisquer outros elementos que apenas tornem experimental a proposta do artista. Da abertura ao fecho, cada faixa do registro ecoa de maneira agradável, comercial em alguns instantes, e musicalmente harmônica, perfeita aos ouvidos mais tímidos e atenta aos ouvintes mais exigentes.

Por vezes tocando o mesmo Baroque Pop épico que tanto define o clássico Funeral (2004) do Arcade Fire, ou alcançando as melodias sutis que preenchem o doce Illinoise (2005) do cantor Sufjan Stevens, em carreira solo Rossen parece atingir uma sonoridade acima da que define sua participação no Grizzly Bear. Seja pelos vocais abundantes que se desmancham na confessional Saint Nothing (faixa conduzida quase inteiramente em cima de harmonias amargas de piano) ou a variedade de formas sonoras (e vocais) que se aconchegam no interior de Golden Mile, cada porção do EP se preenche de detalhes que por vezes beiram um resultado alegre e quase ensolarado, proposta de quase oposição quando posta ao lado das invenções de suas antigas bandas.

Embora soe muito próximo, em Silent Hour/Golden Mile Rossen deixa claro o distanciamento musical em relação a qualquer anterior registro por ele elaborado. Mesmo intimo de tantas obras e temáticas, o EP é um registro de recomeço, como se o músico encontrasse uma via rara e por vezes inédita mesmo dentro de sua vasta obra. Um caminho que deve ser aprofundado, amplamente explorado e repetido futuramente, independente do sucesso ou fracasso em relação a qualquer um de seus outros projetos.

Grizzly Bear

Silent Hour/Golden Mile (2012, Warp)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Grizzly Bear, Arcade Fire e Sufjan Stevens
Ouça: o disco todo

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.