Disco: “SILVA EP”, Silva

/ Por: Cleber Facchi 25/10/2011

Silva
Brazilian/Experimental/Alternative
http://soundcloud.com/silvasilva

Por: Cleber Facchi

EPs sempre me pareceram um prelúdio de que algo grandioso e belo ainda está por vir. Pelo menos tem sido assim ao longo dos últimos anos, quando em 2003 o Arcade Fire antecipou com um pequeno álbum de sete faixas a chegada de estupendo Funeral. Foi assim também há pouco menos de um ano, quando o Girls nos presenteou com Broken Dreams Club, um eficaz anuncio do que veríamos com a chegada de Father, Son, Holy Ghost. Logo, torna-se suspeitável que ao ouvir o primeiro EP do jovem Lúcio da Silva Souza somos diretamente obrigados a esperar por alguma obra de imensurável beleza.

Enquanto o suposto trabalho imaginário ainda flutua no campo das ideias, o jeito é nos deleitarmos com as cinco brilhantes composições que exalam através do ainda fresco SILVA EP (2011, Independente), um trabalho de efêmeros 20 minutos, mas que valeria por uma discografia inteira. Afundado em um mar de referências, o delicado álbum encontra em novas e velhas experiências instrumentais os elementos necessários para promover um dos mais cuidadosos trabalhos que surgiram ao longo do ano em solo tupiniquim. Um curtíssimo tratado de doce sensações e raros encontros musicais.

Inicialmente torna-se difícil nos posicionarmos dentro da gigantesca coleção de sons que passeiam ao longo do trabalho. Logo de cara na faixa 12 de Maio um ritmo caloroso e quase carnavalesco evoca um fino trato de música brasileira, fazendo com que o disco penda despretensiosamente para um Los Hermanos do clássico Bloco do Eu Sozinho. Talvez pelos vocais (principalmente) e pela forma suave como mínimas inserções eletrônicas vão se anunciando, torna-se difícil não lembrar algo realizado pelo +2, talvez próximo do primeiro registro do projeto, o calmo Máquina de Fazer Música aos comandos de Moreno Veloso. Entretanto, ainda há algo mais ao fundo da composição.

Esse suposto “algo mais” acaba melhor evidente na composição seguinte, Imergir, que por conta de seu forte diálogo com os sons eletrônicos arremessam o músico para dentro do ainda recente terreno da Chillwave, soando como um Washed Out abrasileirado ou quem sabe um Toro Y Moi menos sintetizado e sujo. Os melancólicos violinos ao fundo garantem ainda um toque de indie pop, aproximando a canção de algo que Zach Condon tenha desenvolvido ao longo do último álbum do Beirut, percepção que se intensifica ainda mais na seguinte A Visita. Silva, entretanto, ainda esconde alguma coisa.

Em Cansei, mais uma vez Lúcio surpreende e se renova. O ambiente hermético da canção vai de encontro ao pós-dubstep de James Blake, deixando que isso se estenda à faixa seguinte, Acidental. Um pouco mais vasta, a canção abraça de vez o experimentalismo, buscando esforços no Panda Bear do recente Tomboy ou quem sabe no Yesayer do álbum Odd Blood, algo bem evidenciado pelas pequenas reverberações psicodélicas da faixa e seus sintetizadores coloridos.

Além do bem aplicado encontro de referências musicais externas, em nenhum momento Lúcio abandona a intensa relação com a música pátria, elemento que parece costurar cada uma das cinco composições e impedindo que o pequeno álbum se perca em estrangeirismos pretensiosos. Desenvolvido ao longo de cinco meses e contando com a produção de Lucas Paiva, SILVA EP não é uma promessa de algo que ainda está por vir, mas uma resposta e uma comprovação de algo que se revela no presente, embora ainda ache que este EP é o prelúdio de que algo ainda mais grandioso e belo está por vir.

SILVA EP (2011, Independente)

Nota: 8.1
Para quem gosta de: Los Hermanos, Washed Out e Marcelo Jeneci
Ouça: Imergir

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.