Disco: “Silver Cloud EP”, Actress

/ Por: Cleber Facchi 11/02/2013

Actress
Electronic/Experimental/Techno
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Por: Allan Assis

ACTRESS

Depois da intensa viagem sonora formada em sua maioria por ruídos e estática envolta numa fina camada de nebulosidade, David  Cunningham, cabeça do projeto Actress dá depois de seu elogiado R.I.P (2012),  segundo álbum da carreira do produtor inglês e um dos melhores trabalhos do último ano. O EP Silver Cloud, lançamento com três músicas, entretanto, aponta para novas direções, o que seria no mínimo questionável já que criar um universo inteiro para seu último álbum tendo pé em artistas como Aphex Twin e Autechre, mas ainda assim sustentando uma identidade própria não parece ter sido das tarefas mais fáceis. Cunningham não chega a virar a página em seu novo trabalho, mas já começa a apontar para novos interesses, provavelmente uma prévia do que veremos em breve em um próximo registro maior.

Tal qual o lançamento anterior, ainda há lugar para o som descentralizado e hipnótico, preenchido por batidas matematicamente calculadas e nuvens de pixels, claro; a inovação fica a cargo de uma faceta cada vez mais sombria que começa a se destacar nas novas músicas. Desse ponto de vista Silver Cloud foge um pouco da fórmula empregada até o momento no Actress, desaparecem os instantes de delicadezas e a suavidade, entram em campo verdadeira paredes de som.

 
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Voodoo Posse Chronic Illusion abre caminho de forma quase agressiva: mais de 11 minutos de uma faixa pautada num mergulho a uma enfileirada métrica de beats que se repete por quase toda extensão da composição. Mas é preciso, claro, calma pra entender tudo que David propõem ao ouvinte aqui, um verdadeiro universo escondido por trás dessa aparente e impenetrável base. As sutilezas do som do britânico ainda se fazem presentes, mas quase imperceptíveis numa primeira audição, como a abandonada percussão que pontua por vezes a música.

Silver Cloud Dream Come True é ainda mais discreta, melancólica e até industrial. Seca por grande parte do registro deixa vazar vez ou outra o som de trovões numa tempestade, reforçando ainda mais uma estética menos delicada que a de seus anteriores trabalhos. Floating in Ecstasy é mais arrastada e lo-fi, bem diferente do ritmo de faixas como Serpents e Holy Water que apesar de ambientais e nebulosas rumavam ainda num caminho indiscutivelmente techno. No entanto, explorando ainda os trabalhos anteriores de Cunningham observa-se a ponte temática pessimista como em Tree of Knowledge, dá pra notar que o obscuro sempre esteve ali, só em menores doses.

Pouco ortodoxo e até mais difícil de assimilar que seus trabalhos anteriores é o atual Silver Cloud, um sutil abraço a um conteúdo climático e sombrio. Espera-se do ouvinte atenção para reparar em cada detalhe proposto e escondido atrás de paredes concretas, mas não impenetráveis de som criadas pelo britânico. O EP aponta para uma imersão cada vez maior nos minimalismos e ruídos detalhados em pequenos pontos do registro. David Cunningham sutilmente muda de rumo, mas segue deixando que a experimentação guie os passos de seu trabalho.


Actress

Silver Cloud EP (2013, Werk Discs)

Nota: 7.5
Pra quem gosta de: Autchere, Burial e Wolf Eyes
Ouça: Voodoo Posse Chronic Illusion e Silver Cloud Dream Come True

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.