Disco: “Simple Math”, Manchester Orchestra

/ Por: Cleber Facchi 05/05/2011

Manchester Orchestra
Indie Rock/Power Pop/Alternative Rock
http://www.myspace.com/manchesterorchestra

 

Por: Cleber Facchi

O casamento entre William e Kate, a polêmica morte de Bin Laden e a beatificação de João Paulo II, um apanhado de inúmeros acontecimentos, importantes ou não, mas todos mais relevantes que os rumos tomados pelo Manchester Orquestra em Simple Math, mais recente disco do grupo de Atlanta, que ao contrário dos dois lançamentos anteriores desce por uma ladeira desenfreada que beira o patético. Soando como um Bon Jovi remodelado e brincando de fazer hard rock, o quarteto suja sua até então agradável carreira com um disco ambicioso e que traduz com propriedade do significado da frase “vergonha alheia”.

Excesso, um problema que toma conta de uma infinidade de artistas, quando os mesmos começam a crescer dentro do mercado fonográfico. A possibilidade de novos estúdios, instrumentos de gravação e acessibilidades antes não encontradas dentro do meio independente parecem ser o grande combustível de constrangimentos musicais como o que é encontrado em Simple Math. O que anteriormente se resumia a uma excelente sequência de guitarras, vocais escarrados e uma bateria surpreendentemente boa, agora se converte na inserção de uma orquestração falha, fazendo com que a banda soe como um Scorpions em seu pior momento durante a carreira acústica.

Quando Mean Everything To Nothing saiu em 2009, quem acompanhava o trabalho da banda desde seu surgimento em 2005 teve uma bela surpresa. O grupo transparecia o real significado do termo Indie Rock, lembrando os promissores trabalhos de rock alternativo surgidos no começo dos anos 90, talvez um Sugar da fase Copper Blue (1992), por meio da chuva de guitarras e vocais gritados, tudo fluindo dentro de uma estranha melodia pop, onde faixas como Shake It Out e Pride transformavam-se em clássicos mais do que imediatos, um oposto do atual trabalho.

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Tudo de resume de forma forçada e desinteressante ao longo do álbum. As letras, trazendo como tema relacionamentos amorosos, existencialismos de jovens adultos e questões como o envelhecimento, parecem escritas por um grupo de adolescentes clichês, e que se fossem lançadas há meia década fariam sucesso nas mãos de artistas do famigerado movimento emo. Um verdadeiro salto para trás se comparadas aos dois discos anteriores da banda, onde as desilusões e as mesmas reflexões eram entregues de forma madura e séria.

O problema maior talvez ainda seja a instrumentação trabalhada ao longo do disco. Não há unidade nas composições, como se cada faixa fosse musicalmente concebida por um artista diferente, em determinados momentos se apresentando como feita por um veterano do hard rock, que há tempos perdeu suas habilidades com a guitarra, enquanto em outros plagia descaradamente clássicos dos anos 90. Mighty soa como qualquer coisa do último disco do Foo Fighters, enquanto April Fool poderia ser ridiculamente encontrada nos álbuns do The Smashing Pumpkins, além de Pale Black Eye, que lembra “de leve” Undone (The Sweater Song) do Weezer.

O que mais fica difícil de entender é a presença do produtor Dan Hannon, que já havia trabalhado com a banda tanto no álbum de estreia como assumindo parte do trabalho anterior ao lado de Joe Chiccarelli, e que aqui se faz inexistente, como se apenas assinasse o álbum, deixando a banda se “divertir” como quisesse. Simple Math até conta com algumas boas composições, como é o caso de Virgin, entretanto, o excesso de canções decadentes conseguem se superar. Para o Manchester Orchestra a matemática parece não ser assim tão simples.

Simple Math (2011)

Nota: 6.0
Para quem gosta de: Foo Fighters, Silversun Pickups e Weezer
Ouça: Virgin

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.