Disco: “Sintoniza Lá”, BNegão e Os Seletores de Frequências

/ Por: Cleber Facchi 27/04/2012

BNegão e os Seletores de Frequências
Brazilian/Hip-Hop/Funk
http://www.facebook.com/bnegaoseletores

Por: Cleber Facchi

Todo mundo tem (ou pelo menos deveria ter) uma história musical envolvendo BNegão. Aos 38 de idade o carioca Bernardo Santos já esteve envolvido em uma boa soma de projetos da cena nacional. Seja ao lado dos politicamente incorretos membros do Planet Hemp, compondo a gama de integrantes do dançante The Funk Fuckers ou mesmo dentro do Turbo Trio, o que não faltam são territórios onde o artista já não tenha passado e deixado sua marca. Tão vasta quanto a experiência profissional do rapper é a sonoridade que o acompanha, pendendo involuntariamente para o reggae, hip-hop, dub, hardcore ou qualquer outro gênero que se atreva a se aproximar da zona de alcance do artista.

Sempre diversificado, foi somente ao lado dos Seletores de Frequências que em 2003 o carioca agrupou todas essas referências que o acompanham, focalizando anos de experiências em um único ponto musical, ou melhor, em um único disco. Nasceu assim o surpreendente Enxugando Gelo, álbum que fato consegue condensar todos os elementos que até então movimentavam a vida do compositor, artista que não satisfeito com o resultado incluiu toda uma nova carga de sons, beats, versos e possibilidades dentro do novo projeto. Vanguardista, o trabalho não apenas revolucionou a forma como foi lançado – um dos primeiros a serem expostos gratuitamente na internet -, mas pela maneira como diferentes gêneros musicais se agrupavam em um único espaço físico.

Dentro dessa mesma ideia e partilhando de uma sonoridade ainda diversificada, BNegão e os parceiros de banda apresentam agora Sintoniza Lá (2012, Coqueiro Verde), a aguardada sequência do disco que há quase uma década redefiniu a carreira do compositor. Menos amplo que o trabalho que o precede, o novo álbum mantém a mesma variedade de gêneros que outrora acompanharam o grupo, entretanto, a mistura de fórmulas, antes elemento fundamental para o projeto, agora se manifesta em uma estrutura diferenciada. Já o suingue e a força que movimentam o projeto, estes se mantém inalterados se não ainda mais fortes.

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Enquanto no decorrer do primeiro álbum cada faixa armazenava o máximo de referências em um curto espaço de tempo, hoje toda pequena composição busca dar acabamento particular a cada estilo que circunda a sonoridade da banda. Dessa forma, o hardcore em Subconsciente (momento que mais aproxima o rapper do que era proposto no Planet Hemp) ou o funk em Bass Do Tambô soam muito mais límpidos, puros e instrumentalmente bem orquestrados. A produção eficiente de Pedro Garcia (ex-baterista do Planet Hemp e atual Rockz), consegue sincronizar e absorver de forma harmônica toda fagulha instrumental gerada por cada um dos componentes do grupo, afinal, ao longo do álbum é possível absorver todas as nuances e mínimos detalhes que caracterizam a obra.

Da mesma forma que as letras do primeiro álbum vinham repletas de frases marcantes, doses de crítica social, sacadas descontraídas e certo teor nonsense, em Sintoniza Lá a proposta não é diferente. “O monstro é grande sim/ Mas não é invencível/ Pois esse império é artigo perecível”, canta o rapper em O Mundo (Panela De Pressão), uma das faixas que pendem para o lado mais sério do álbum, mas que ainda assim mantém constante a leveza e a busca por um lirismo que cole fácil nos ouvidos do espectador. Essa busca por um som comercial e descontraído se manifesta na maior parte do disco, que entre uma canção e outra um pouco mais “complexas”, revelam faixas como Essa é Pra Tocar No Baile e Chega Pra Somar No Groove, músicas que trazem nas letras um mero complemento para a sonoridade dançante que a banda gera.

Com o bom humor em alta e a sonoridade conduzida por um ritmo quente, tanto a banda como o rapper parecem caminhar em sintonia, o que explica o resultado totalmente assertivo e cativante do trabalho. Talvez um pouco mais simples que o álbum lançado há nove anos, Sintoniza Lá ainda mantém a mesma prerrogativa eficiente e todo o remelexo daquela época, apenas de forma levemente remodelada e logicamente plástica. Só resta torcer para que o grupo não demore outra eternidade para nos presentear um pouco mais com esse mesmo suingue e todo o balanço que orienta o presente disco.

Sintoniza Lá (2012, Coqueiro Verde)

Nota: 7.9
Para quem gosta de: Turbo Trio, Black Alien e Bixiga 70
Ouça: Proceder/Caminhar, Na Tranquila e Essa é Pra Tocar No Baile

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.