Image
Críticas

Lindstrøm

: "Six Cups Of Rebel "

Ano: 2012

Selo: Smalltown Supersound

Gênero: Eletrônica, Space Disco

Para quem gosta de: John Talabot e Prins Thomas

Ouça: Deja Vu e Magik

8.0
8.0

Disco: “Six Cups Of Rebel”, Lindstrøm

Ano: 2012

Selo: Smalltown Supersound

Gênero: Eletrônica, Space Disco

Para quem gosta de: John Talabot e Prins Thomas

Ouça: Deja Vu e Magik

/ Por: Cleber Facchi 10/01/2012

 

Déjà vu. Expressão retirada da língua francesa e que tem como significado literal o termo “Já visto”. De maneira simples, é aquela sensação de que já vivenciamos certas experiências ou acontecimentos em um passado ainda recente, mas que por meio de uma presente fagulha psicológica somos novamente transportados para dentro de nossa mente, condicionados a experimentar rapidamente essas mesmas sensações. Estranho, mas é exatamente essa a percepção repassada ao nos depararmos com Deja Vu, primeiro single de Six Cups Of Rebel (2012, Smalltown Supersound), mais novo álbum do produtor norueguês Hans-Peter Lindstrøm e responsável por nos acomodar em uma viagem musical, temporal e psicológica por épocas distintas do mundo da música.

Inicialmente as sirenes, batidas pulsantes e vocais sincopados se desmancham em uma excursão (sonora) diretamente para a música eletrônica dos anos 1990, retomando a cena House de Chicago e talvez em uma menor instância a psicodelia reformulada e os beats suingados que Primal Scream e Happy Mondays reforçavam em solo britânico. Entretanto, a viagem de Lindstrøm está muito além de um único período, descendo ainda mais na linha do tempo e mergulhando em novo Deja Vu, dessa vez presente na cena musical dos anos 1970. Teclados quentes e vocais menos fracionados dão vida a todo um novo jogo de sensações – só faltaram as linhas de baixo típicas do período.

Feito um viajante do tempo, o produtor nos carrega para diferentes períodos sonoros e temporais, nos arrastando em cada batida para um deja vu atrás do outro – afinal, o que é a house music se não um imenso deja vu reconfigurado da disco music que explodiu na década de 1970? Mais do que uma única composição, a estupenda música é um convite ao catálogo de viagens alucinantes que o norueguês propõe ao longo de todo o trabalho, nos cobrindo por somas de teclados diversificados, uma percussão que está longe de um mero jogo de samples, além de todo um conjunto de vozes que muito se assemelham ao que fora proposto no primeiro álbum do Hercules and Love Affair, outro enorme retrato do que fora a música disco – agora compreendida como “nu-disco” – em idos da década de 90.

Embora não seja todo o resultado do presente álbum de Lindstrøm, Deja Vu (a faixa) é essencial para nos desligarmos das construções musicais propostas pelo produtor no lançamento de seu último registro individual, Where You Go I Go Too, de 2008. Mesmo partidário das mesmas experiências musicais e referências do recente disco, o anterior álbum – composto de três extensas faixas – dava uma visão muito particular da eletrônica composta pelo norueguês, mergulhando o ouvinte em longas bases eletrônicas, faixas que mesmo ressaltando a Space Disco (termo designado para traduzir o trabalho do artista) se orientavam por uma sonoridade muito mais diminuta (nada de Minimal Techno) e condensada, completo oposto do que encontramos no presente registro.

Muito do que traduz o presente álbum vem como uma espécie de continuação melhorada do disco Real Life Is No Cool de 2010, trabalho proposto em parceria com a cantora norueguesa Christabelle e que evidenciava todo um novo mundo de possibilidades ao produtor. Assim como no registro desenvolvido em parceria, o atual lançamento reforça um caráter de grandiosidade, nunca se aproximando do toque ambiental que permeia todo o disco de 2008. Deja Vu é apenas a ponta de um imenso iceberg marcado por batidas calorosas, verso pegajoso e toda uma verve de sensações que rompem com a calmaria talvez prevista da obra de Lindstrøm.

De fato a grandiosidade do recente trabalho do norueguês não está na força do primeiro single – posicionada como segunda faixa do disco, precedida apenas pela introdutória No Release -, mas no que aparece depois dele. Magik, com seus mais de oito minutos de duração é outro passeio por diferentes épocas da música e mais um clássico imediato do produtor, concentrando no verso sincopado (e grudento) “what kind of magic do you do?” boa parte do que lhe garante poderio. O mesmo se repete em outras canções do disco, como na também enorme Call Me Anytime e a faixa de encerramento Hina, com seus teclados assimétricos.

Assim como fora proposto nos anteriores projetos do produtor, Six Cups Of Rebel repassa constantemente o aspecto de unidade entre as faixas, algo facilmente explicado pelas composições que se conectam, gerando um caráter de canção única e extensa no interior do álbum. Deja Vu emenda naturalmente com Magik, que se conecta automaticamente com Quiet Place To Live, seguindo assim até o encerramento do registro – que naturalmente parece se relacionar com a música de abertura. Por meio da pulsação constante (que em diversos momentos lembra o LCD Soundsystem do disco Sound Of Silver), o registro se mantém ativo e intenso, sendo capaz de segurar sozinho qualquer pista de dança durante a totalidade de seus 53:14 minutos.

Six Cups Of Rebel é um trabalho de divisão. Os que admiram o Lindstrøm sereno e moderado talvez se sintam desconcentrados mediante a profusão de músicas crescentes e ricamente estruturadas. Já os que acompanham o produtor desde o lançamento do intenso Real Life Is No Cool (ou mesmo de seus anteriores singles e remixes) terão no presente álbum uma satisfação imoderada, afinal, até o fim do trabalho é impossível nos desvencilharmos da sucessão de acertos e faixas monumentais que hipnotizam o espectador em segundos. Mesmo que o álbum repasse a constante sensação de “já ouvi isso antes”, o produtor amarra e desenvolve as canções de maneira a soarem levemente inéditas, prendendo o ouvinte em uma constante sensação de deja vu, uma percepção única da qual não queremos nos desligar.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.