Disco: “Six Months of Death”, Veenstra

/ Por: Cleber Facchi 07/05/2013

Veenstra
Indie/Lo-Fi/Experimental
http://veenstra.bandcamp.com/

 

Por: Cleber Facchi

Veenstra

Lorenzo Molossi – ou François Veenstra como costuma se apresentar -, não precisou ir além do ambiente “limitador” do próprio quarto para dar vida aos sussurros acolhedores de Six Months of Death (2013, Independente). Segundo registro “em estúdio” do músico paranaense, a obra traz na medida etérea de instrumentos e vozes onduladas o exercício base para abastecer um catálogo marcado pelo sofrimento. Um conjunto sombrio de canções fragmentadas pela solidão, medo e o toque artesanal dos sons, mas capazes de revelar aspectos sublimes do que circunda dolorosamente o cotidiano frio do jovem compositor.

Herdeiro confesso do que Phil Elvrum construiu com o The Microphones ou mesmo no clima soturno do Mount Eerie, Molossi traz na timidez um caminho seguro para a construção de faixas que praticamente se desfazem nos ouvidos do espectador. São composições atentas ao minimalismo do pós-rock – um meio termo entre Explosions In The Sky e os instantes menos épicos do Godspeed You! Black Emperor -, mas que mantém certo controle quando próximas de um resultado voltado ao abstrato. De propósito sombrio, como o título logo revela, o disco surge como um convite, entregando as chaves para que o próprio ouvinte decida se mergulha no universo particular de François.

Utilizando da atmosfera caseira como um recurso natural para o disco, o músico trata dos vocais como um instrumento complementar para a formação do esqueleto que sustenta a obra. São conjuntos bem amarrado de murmúrios que se esparramam pela tapeçaria delicada de guitarras e pianos atmosféricos do disco. Dessa forma, o artista cria um efeito que se aproxima do Dream Pop de bandas recentes como Youth Lagoon ao mesmo tempo em que aspectos inexatos do folk torto de Julian Lynch se derramam pelo disco. Cada passo dado ao longo do disco parece incerto. Se em determinados momentos o Folk parece o destino final do artista, em pouco segundos guitarras distorcidas ou pianos herméticos puxam o registro para um novo resultado, movimentando a essência da obra.


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Da mesma forma que o exercício firmado no debut Journey to the Sea (2012), o posicionamento instável das faixas garante ao disco uma incorporação complexa e jamais próxima do comum. Espécie de labirinto de sons e sentimentos, o álbum prende o ouvinte em um exercício arrastado em alguns instantes, porém, satisfatório quando aproveitado com parcimônia. Como se clamasse pelo tempo, o registro flui em uma medida ponderada, revelando detalhes que parecem ocultos ou fragmentados em pequenas doses no decorrer de toda a obra. Enquanto a faixa de abertura, Negative Space, funciona como um exercício de plena descoberta – para o ouvinte ou para o próprio criador -, quanto mais o disco se desenvolve, mais os detalhes crescem com ele.

Assumindo um posicionamento que praticamente divide a obra em duas metades específicas, o trabalho concentra no eixo inicial um bloco menos etéreo e voltado à música folk. Entretanto, é na segunda metade da obra que o compositor constrói o resultado mais satisfatório do registro. Aglutinado tímido de porções ambientais, An Altar Near the Skies abre espaço para o que parece uma clara aproximação com o trabalho de gigantes da Ambient Music. Soma-se a isso distúrbios climáticos que regressam ao pós-rock, um condensado sombrio que em alguns momentos remete ao Sigur Rós da fase Valtari (2012), mas que na verdade manifestam a real identidade do jovem músico.

Tortuoso, Six Months of Death parte de um encaminhamento distinto em relação ao que abastece boa parte da cena nacional. Mesmo os experimentos climáticos de bandas como Constantina ou dos próprios conterrâneos do ruídos/mm parecem incompatíveis com o plano atmosférico de Veenstra. Para os que apreciam a obra com extrema pressa ou mesmo aos despreparados, o álbum talvez revele apenas uma camada superficial, reservando aos desbravadores pacientes um conjunto raro de detalhes e nuances que involuntariamente tocam os sentimentos.

 

Veenstra (Download)

Six Months of Death (2013, Independente)


Nota: 7.8
Para quem gosta de: ruído/mm, The Microphones e Julian Lynch
Ouça: Moan (Souls Leave) e Stone Burial

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.