Disco: “Skying”, The Horrors

/ Por: Cleber Facchi 04/07/2011

The Horrors
British/Garage Rock/Post-Punk
http://thehorrors.co.uk/

 

Por: Cleber Facchi

Poucas bandas britânicas surgidas na primeira década do novo século conseguem traduzir com tamanha precisão o significado da palavra “maturidade” quanto o The Horrors. Quando Strange House (Loog), o primeiro disco da banda surgiu em 2007 havia, talvez pelo visual dos integrantes e seus respectivos codinomes, uma espécie de receio em se embrenhar pelo recente trabalho, afinal, o conjunto de elementos que compunham o universo dos britânicos (como o apanhado de letras excêntricas e sonoridade “fantasmagórica”) tornavam de certa forma “difícil” a assimilação de tão vastos elementos. Entretanto, quem arriscou mesmo assim acabou acertando na escolha.

Logo nas primeiras harmonias de Mirror’s Image, faixa que inaugura o segundo disco da banda, Primary Colours (XL, 2009), o quinteto formado por Faris Badwan, Joshua Hayward, Tom Cowan, Rhys Webb e Joseph Spurgeon mostrava de fato a que veio, não mais meros propagadores do garage rock ou do pós-punk britânico dos anos 80, mas indivíduos donos de uma sonoridade própria e desenvolveres de um som adulto, porém carregado de jovialidade. A banda não apenas sobrevivia à famigerada “Síndrome do Segundo Disco”, como se revelava como uma das mais importantes do cenário britânico, figurando fácil entre os maiores lançamentos daquele ano (a NME, por exemplo, o elegeu como melhor trabalho de 2009).

Se havia apreensão na quebra entre o primeiro e o segundo disco, apreensão ainda maior acabou instalada com a aproximação do terceiro disco, agora com a banda cercada de inúmeros olhares e ouvidos cuidadosos buscando por qualquer mínimo deslize que viesse a ser lançado. Longe de produtores (em seu último disco o grupo havia contado com três deles e cinco na produção do debut) e assumindo todas as responsabilidades da gravação chega agora Skying (2011, XL), terceiro e decisivo disco do The Horrors, trabalho que deve ou não comprovar a funcionalidade e todas as expectativas que se criaram em torno do grupo.

Assim como já se tornava visível no trabalho anterior, com o recente disco o grupo abandona de vez o uso de faixas mais curtas, despojadas ou que de alguma forma remetam ao resultado anárquico e acelerado que se encontrava na estreia, em 2007. Skying é um disco grande, são quase 60 minutos de duração e um ampliado uso de faixas volumosas, composições que ultrapassam os sete minutos e viabilizam a condução de um som mais denso, atmosférico e muito mais sujo.

Embora custe a engrenar (talvez seja a espera pelos mesmos sintetizadores que delimitavam boa parte do álbum de 2009), o disco vai aos poucos delineando seu formato, algo que parece se resolver em meio à mudança brusca que ocorre aos exatos 1:40 de Endless Blues, quarta faixa do disco.

A partir de tal limite é como se o quinteto finalmente conseguisse se organizar, encontrando de fato o tipo de som que se pretende desenvolver através do novo álbum. É desse ponto em diante que as guitarras de Joshua Hayward e a bateria de Joseph Spurgeon ganham força e formas bem definidas, se entrelaçando na construção das melhores faixas do disco, como a poderosa Dive In (com a banda experimentando uma sonoridade voltada à psicodelia)ou através do single Still Life, faixa que mais se aproxima dos anteriores trabalhos da banda, mas que mantém a mesma densidade que se abate no atual registro.

Assim como em Primary Colours, o grande acerto do The Horrors dentro de Skying são as composições mais extensas. Tanto Moving Further Away (com 8:35) como Oceans Burninga (com 7:50) abrem possibilidades para que a banda reveja e reinvente seus sons, atravessando terrenos experimentais, etéreos, algumas doses de eletrônica. Em ambas as canções (além de em menor escala no restante do disco) torna-se visível o quanto a década de 1980 parece ser deixada para traz, com o grupo se aproximando categoricamente da década seguinte, além de firmar de maneira bem resolvida seus laços com todo o cenário de Madchester, se conectando com The Stone Roses e Happy Mondays.

Mesmo se revelando como um excelente registro, um dos melhores que escaparam de território britânico desde o começo do ano, Skying parece ser a base de algo ainda maior que a banda inglesa venha a desenvolver, algo que o grupo sempre consegue transmitir ao término de seus álbuns e que nos prende em uma ânsia pelos futuros lançamentos. A maturidade do The Horrors está visivelmente encravada na constante mutação que a banda traz para dentro de suas músicas, algo que talvez faça deles um dos maiores, ou talvez o maior, grupo inglês em atuação.

Skying (2011)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: Cat’s Eyes, O. Children e Interpol
Ouça: Still Life e Oceans Burning

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.