Disco: “Slaughterhouse”, Ty Segall Band

/ Por: Cleber Facchi 28/06/2012

Ty Segall Band
Garage Rock/Lo-Fi/Punk
http://ty-segall.com/

Por: Cleber Facchi

Com o lançamento de Open Your Heart do quarteto The Men, Attack On Memory do Cloud Nothing ou mesmo Celebration Rock da dupla canadense Japandroids, aos poucos o ano de 2012 se transforma em um surpreendente catálogo de discos em que o destaque está nas guitarras que falam mais “alto”. Do revival da década de 1990, passando pela revitalização do punk ou expansão do Garage Rock, por todos os lados veteranos e novos representantes do rock alternativo estadunidense dão formas substanciais a registros que parecem desafiar a lógica retrógrada de que “não se faz mais rock como antigamente”.

Bem humorado e há quase uma década brincando com guitarras sujas e vocais exageradamente altos, Ty Segall é o mais novo representante dessa leva de bandas e artistas a mostrar que o rock não apenas ainda vive como soa ainda mais intenso e revigorado. Depois de uma série de discos caseiros lançados nos últimos anos, culminando na apresentação do excepcional Goodbye Bread em 2011, o músico de São Francisco, Califórnia resolveu se cercar de novos colaboradores. Surge assim o anárquico Ty Segall Band, quarteto que assume todos os direcionamentos dentro do sujo Slaughterhouse (2012, Drag City), disco de “estreia” da nova banda.

Com um catálogo de canções tão intensas quanto as apresentadas em outras épocas, o quarteto mantém o mesmo espírito assumido no rock garageiro dos últimos anos. Entretanto, enquanto algumas bandas como Black Lips se perdem nos excessos de comicidade, e outras como o Dirty Beaches se envolvem com um trabalho deveras conceitual e hermético, o grupo de São Francisco mantém um meio termo constante. Há desde faixas que assumem uma postura mais leve, como Oh Mary, até canções que incorporam um toque mais experimental e inventivo, proposta bem expressa na faixa que dá título ao álbum.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=clXTYPJzlb4]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=iqPuz2eXBJw]

Se em outras épocas Segall segurava sozinho todas as pontas e instrumentos dos álbuns apresentados por ele, hoje o músico californiano conta com o apoio essencial de um pequeno, porém, eficaz grupo de colaboradores tão bizarros quanto ele. Enquanto Emily Rose Epstein toma conta da bateria, Charles Moothart divide as guitarras com o líder da banda, deixando para Mikal Cronin o baixo e os vocais de apoio em algumas das canções. Com essa dose extra de liberdade, Ty ocupa do tempo livre para investir em versos levemente abertos a novos públicos, bem como riffs que parecem prontos para abocanhar o máximo de ouvintes possíveis.

Ao mesmo tempo em que o registro possibilita uma aproximação maior com um público antes despreparado para enfrentar os experimentos garageiros do músico, durante toda a execução de Slaughterhouse, Segall não se esquece de quem há tempos acompanha seus registros. Seja na abertura ruidosa proposta na claustrofóbica Death, ou pela desconstrução instrumental que faixas como Wave Goodbye enfrentam no meio do percurso, até o encerramento do álbum tudo se desenvolve de maneira inexata, complexa e intensa. Até na última canção, quando tudo parece próximo de se resolver, Ty e os parceiros enveredam para uma verdadeira Fuzz War, brincando com o noise rock e certo toque de psicodelia em preto e branco que mais uma vez cola a cabeça do ouvinte no teto.

Se por um lado a presença de Ty Segall dentro de uma banda parece estabelecer certo bloqueio no processo de composição do músico, impedindo que ele brinque com as mesmas esquizofrenias de outrora, por outro lado vemos o artista alcançar um resultado profissional e maduro sem esquecer os velhos acertos do passado. Diferente dos anteriores, todas as canções de Slaughterhouse são essenciais para o bom rendimento do disco, um oposto de velhos ou mesmo recentes lançamentos – como o próprio Goodbye Bread -, em que Segall se divide entre momentos constantes de irregularidades e acertos. Com o novo disco, o californiano não apenas atinge o melhor desempenho de toda a carreira, como mostra que ainda há muito que ser explorado.

Slaughterhouse (2012, Drag City)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: The Oh Sees, The Men e Black Lips
Ouça: Wave Goodbye, Slaughterhouse e I Bought My Eyes

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/48014439″ iframe=”true” /]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.